29 de novembro de 2007

 

Enfim um senador que honrou o País

Publicado no Jornal A Tarde, 29 de nov Página Opinião

Um senador que honrou o país
Oldack Miranda

Um selo comemorativo foi lançado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT). Sessão solene está programada no Senado e na Câmara dos Deputados. Sessões especiais estão na agenda das assembléias legislativas do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Dezenas de câmaras e prefeituras programaram eventos festivos. Universidades organizam seminários. Tudo para homenagear um senador que honrou a República. Trata-se de Teófilo Benedito Ottoni, cujo bicentenário de nascimento (27 de novembro) está sendo comemorado.

Embora a História Oficial o tenha sonegado dos livros escolares, foi um dos políticos mais importantes do Brasil Império. Um liberal, democrata e empreendedor que esteve à frente de seu tempo.
Ao morrer, no Rio de Janeiro, era um personagem quase mitológico, o homem mais popular do Brasil. Inspirou-se no ideário da revolução norte-americana. Republicano, combateu a monarquia.

Ottoni defendeu as liberdades civis, os direitos humanos, a idéia federativa, a igualdade, a abolição da escravatura e até o direito à revolução dos povos quando os governos se inclinam para a tirania.

Rejeitou a guerra de extermínio decretada pelo Império contra os indígenas e colonizou o Vale do Mucuri com mão-de-obra livre importada da Europa. Pacifista, ousou pegar em armas na Revolução Liberal de 1842 contra o Império, e foi preso pelo então Barão de Caxias.

Da prisão, editou o jornal “Itacolomi” de crítica frontal ao Reinado e, na tradição libertária de Cipriano Barata, fundou o “Sentinella do Serro”.

Era radicalmente contra o “beija-mão” imperial que até outro dia mesmo era costume aqui na Bahia.

Incorruptível, recusou fazer parte da corte de parasitas. Sonhava com a industrialização, ferrovias, estradas de rodagem, navegação fluvial integrada à navegação de cabotagem.

É um personagem cuja história deve ser resgatada e apresentada às novas gerações. Nem sempre senadores foram venais. O resgate de Teófilo Ottoni ganha importância nestes tempos de descrédito do Senado e da Câmara dos Deputados.

Em Minas, foi vereador, deputado provincial, deputado geral e senador.

Eleito seis vezes ao Senado, por cinco vezes foi preterido pelo “Poder Moderador” do déspota D. Pedro II. Em 1860, com sua famosa “Circular aos Leitores Mineiros” incendeia o imaginário, lidera a maré democrática, questiona o poder, a censura à imprensa e o sistema eleitoral corrompido.

Contribuindo para esse resgate, o ex-ministro dos Direitos Humanos, jornalista Nilmário Miranda, atual vice-presidente da Editora Fundação Perseu Abramo, acaba de lançar o livro “Teófilo Ottoni, a República e a Utopia do Mucuri”, pela Editora Caros Amigos. Resgatar a saga de Teófilo Ottoni é resgatar a esperança na política e no homem público.

* Oldack Miranda é jornalista

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