2 de agosto de 2007
O ministro Jobim começou mal
Nelson Jobim quis ser muito esperto e começou mal no Ministério da Defesa. Foi um vexame a forma depreciativa como se referiu a Waldir Pires. Nelson Jobim chegou ao governo como o valentão das coxilhas, falando grosso. Como grande parte da classe média tem, como assinalava Mussolini, a vocação para o masoquismo, e como esta parcela “del medio pello”, está presente nos meios de comunicação, é provável que ele seja saudado como o “condottiere” necessário ao país. É bom que o ministro Jobim abaixe o tom de voz - se quer servir ao presidente e à república. O conselho foi dado pelo jornalista Mauro Santayana, em artigo publicado no Jornal do Brasil.
LEIA A ÍNTEGRA DO ARTIGO DE SANTAYANA:
Autoridade e autoritarismo
Fonte: Coluna Coisas da Política, Jornal do Brasil, pág. 02, dia 29/07/2007.
Por: Mauro Santayana.
CONVIRIA AO MINISTRO Nelson Jobim, homem a quem alguns creditam excelso saber, distinguir entre autoridade e autoritarismo. Ele começou mal, ao dirigir-se, de forma depreciativa, a um homem de biografia conhecida. Contra Waldir Pires não se pode imputar nada de duvidoso, e menos ainda o desrespeito à legitimidade constitucional.
Na defesa da Constituição de 1946, provavelmente a melhor da República, Waldir conheceu a perseguição e o exílio. Em Montevidéu, durante grande parte do eclipse ditatorial, sua palavra, moderada e serena, serviu para manter, entre os que ali se encontravam, a esperança de retorno a um país livre.
Em 7 Setembro de 1964, os exilados comemoraram o aniversário da independência nacional em praça pública, e o orador escolhido foi Waldir, que não havia chegado aos 40 anos.
Homem de conciliação entre as duas correntes - a liderada por Brizola e a que ouvia mais João Goulart - Waldir continha os arroubos de seu amigo Darcy Ribeiro, mas sempre se manteve na resistência democrática, com coragem e disposição para a resistência. Um desses homens de palavra mansa, que sabem surpreender nas horas decisivas,
Waldir soube avaliar o perigo que representava a candidatura de Collor, construída pela eficiência da propaganda e os fartos recursos dos neoliberais. Candidato a Vice-Presidência, com Ulysses, Waldir seguiu o que indicava o bom senso do centro democrático e trabalhou para que houvesse a confluência em favor da candidatura de Mário Covas. Waldir se empenhou nesse sentido, mas o açodamento dos tucanos fez erodir o projeto.
Antes disso, no Ministério da Previdência Social, para o qual fora escolhido por Tancredo, confrontou-se com os banqueiros, atuou firmemente contra os sonegadores e acabou com o rombo do sistema, tornando-o superavitário.
Homem de conciliação, Waldir continha os arroubos de Darcy Ribeiro
Na Controladoria-Geral da União, sua mão firme se fez pesada contra os ladrões do Erário.
Sem bravatas, trabalhando até horas avançadas da noite, contribuiu para o mais importante êxito do atual governo: o da ação tenaz e persistente contra os peculatários. Quase todas as investigações conduzidas pela Polícia Federal, nos últimos anos, iniciaram-se a partir de indícios levantados pela equipe que ele chefiava.
Ao assumir o Ministério da Defesa, Waldir descobriu, repentinamente, que dispunha de amplo e belo gabinete, mas de nenhum poder. Serenamente, como é de seu estilo, procurou com o presidente o apoio orçamentário e a definição de sua autoridade, e nada obteve. Não se pode culpar o ex-ministro pelas dificuldades da pasta.
Waldir não poderia suprir, no grito, a autoridade institucional que lhe era negada pela própria debilidade da lei que criarão departamento de governo. É a este homem que o novo ministro encaminha seus doestos diagonais. Os insultos mascarados não atingem o brio de quem se queria ofender, e retornam ao seu autor.
O senhor Jobim chega ao governo como o valentão das coxilhas, falando grosso. Como grande parte da classe média tem, como assinalava Mussolini, a vocação para o masoquismo, e como esta parcela del medio pello, está presente nos meios de comunicação, é provável que ele seja saudado como o condottiere necessário ao país.
Mas as Forças Armadas, nos últimos 40 anos (e este foi um saldo positivo do período), deixaram de ostentar sobrenomes ilustres, que se vinham repetindo desde Caxias. As Forças Armadas se constituem de gente de povo, cujos interesses se confundem, hoje, com os dos trabalhadores, e não com os da classe média alienada.
É bom que o ministro Jobim abaixe o tom de voz - se quer servir ao presidente e à república.
LEIA A ÍNTEGRA DO ARTIGO DE SANTAYANA:
Autoridade e autoritarismo
Fonte: Coluna Coisas da Política, Jornal do Brasil, pág. 02, dia 29/07/2007.
Por: Mauro Santayana.
CONVIRIA AO MINISTRO Nelson Jobim, homem a quem alguns creditam excelso saber, distinguir entre autoridade e autoritarismo. Ele começou mal, ao dirigir-se, de forma depreciativa, a um homem de biografia conhecida. Contra Waldir Pires não se pode imputar nada de duvidoso, e menos ainda o desrespeito à legitimidade constitucional.
Na defesa da Constituição de 1946, provavelmente a melhor da República, Waldir conheceu a perseguição e o exílio. Em Montevidéu, durante grande parte do eclipse ditatorial, sua palavra, moderada e serena, serviu para manter, entre os que ali se encontravam, a esperança de retorno a um país livre.
Em 7 Setembro de 1964, os exilados comemoraram o aniversário da independência nacional em praça pública, e o orador escolhido foi Waldir, que não havia chegado aos 40 anos.
Homem de conciliação entre as duas correntes - a liderada por Brizola e a que ouvia mais João Goulart - Waldir continha os arroubos de seu amigo Darcy Ribeiro, mas sempre se manteve na resistência democrática, com coragem e disposição para a resistência. Um desses homens de palavra mansa, que sabem surpreender nas horas decisivas,
Waldir soube avaliar o perigo que representava a candidatura de Collor, construída pela eficiência da propaganda e os fartos recursos dos neoliberais. Candidato a Vice-Presidência, com Ulysses, Waldir seguiu o que indicava o bom senso do centro democrático e trabalhou para que houvesse a confluência em favor da candidatura de Mário Covas. Waldir se empenhou nesse sentido, mas o açodamento dos tucanos fez erodir o projeto.
Antes disso, no Ministério da Previdência Social, para o qual fora escolhido por Tancredo, confrontou-se com os banqueiros, atuou firmemente contra os sonegadores e acabou com o rombo do sistema, tornando-o superavitário.
Homem de conciliação, Waldir continha os arroubos de Darcy Ribeiro
Na Controladoria-Geral da União, sua mão firme se fez pesada contra os ladrões do Erário.
Sem bravatas, trabalhando até horas avançadas da noite, contribuiu para o mais importante êxito do atual governo: o da ação tenaz e persistente contra os peculatários. Quase todas as investigações conduzidas pela Polícia Federal, nos últimos anos, iniciaram-se a partir de indícios levantados pela equipe que ele chefiava.
Ao assumir o Ministério da Defesa, Waldir descobriu, repentinamente, que dispunha de amplo e belo gabinete, mas de nenhum poder. Serenamente, como é de seu estilo, procurou com o presidente o apoio orçamentário e a definição de sua autoridade, e nada obteve. Não se pode culpar o ex-ministro pelas dificuldades da pasta.
Waldir não poderia suprir, no grito, a autoridade institucional que lhe era negada pela própria debilidade da lei que criarão departamento de governo. É a este homem que o novo ministro encaminha seus doestos diagonais. Os insultos mascarados não atingem o brio de quem se queria ofender, e retornam ao seu autor.
O senhor Jobim chega ao governo como o valentão das coxilhas, falando grosso. Como grande parte da classe média tem, como assinalava Mussolini, a vocação para o masoquismo, e como esta parcela del medio pello, está presente nos meios de comunicação, é provável que ele seja saudado como o condottiere necessário ao país.
Mas as Forças Armadas, nos últimos 40 anos (e este foi um saldo positivo do período), deixaram de ostentar sobrenomes ilustres, que se vinham repetindo desde Caxias. As Forças Armadas se constituem de gente de povo, cujos interesses se confundem, hoje, com os dos trabalhadores, e não com os da classe média alienada.
É bom que o ministro Jobim abaixe o tom de voz - se quer servir ao presidente e à república.