18 de maio de 2007

 

Operação Navalha antecipa a campanha eleitoral de 2008

Como era previsível, os melhores (e os piores) jornais do país deram manchetes sobre a “Operação Navalha”. O desmonte da máfia das licitações terá profundas conseqüências políticas. É uma cacetada na democracia a curto prazo e uma esperança a perder de vista. Uma das marcas da “Operação Navalha” foi seu caráter suprapartidário.

Saíram chamuscados da investigação políticos do DEM (ex-PFL), PMDB, PT, PSB, PDT, PSDB e PPS. José Sarney (PMDB-AP) festejou o envolvimento de Reinaldo Tavares (PSB) e Jackson Lago (PDT), seus adversários no Maranhão. Mas ele próprio, Sarney, está envolvido até o pescoço. Ou melhor, gente sua está envolvida até o pescoço. Dá no mesmo.

As investigações começaram com malfeitorias no Maranhão. A Executiva nacional do PDT divulgou nota solidarizando-se com o governador Jackson Lago (PDT) e denunciando a "manipulação para comprometer a imagem do governador Jackson Lago conduzida pelo império de comunicação ligado à oligarquia maranhense". A oligarquia maranhense derrotada é o grupo de Sarney. Leiam a relação de presos e envolvidos. Vão conferir que o PPS está lá. Estão quase todos caladinhos.

A Executiva Estadual do PT da Bahia divulgou nota defendendo o prefeito de Camaçari, Luis Carlos Caetano. Os demais partidos não se manifestaram. Não só o PT regional defendeu Luis Caetano. Também o governador Jaques Wagner declarou não acreditar no envolvimento do prefeito de Camaçari. "Até que provem o contrário eu considero todos inocentes, particularmente o prefeito Luiz Caetano, que tem feito uma administração transparente e de combate ao desvio do dinheiro público", disse Wagner.

O personagem central da investigação, Zuleido Veras, presidente da Gautama é muito amigo do senador Renan Calheiros, do PMDB, que lavou as mãos. O PMDB se calou sobre a prisão do deputado distrital Pedro Passos (PMDB), de Brasília. O PFL, atual DEM, não se manifestou sobre o envolvimento de João Alves Neto, filho do ex-governador João Alves Filho (DEM de Sergipe). O PSDB não se manifestou sobre a prisão do prefeito de Sinop, Nilson Aparecido Leitão (PSDB de Mato Grosso).

O esquema da Máfia das Licitações transpira política. A empreiteira Gautama é uma dissidência da baiana OAS, de notórias, familiares e históricas ligações com o grupo de ACM. As duas empreiteiras estavam de relações cortadas, mas ambas foram o foco de bate-boca de ACM (DEM) e Renan Calheiros (PMDB) no Senado. Não se pode esquecer que a empreiteira Gautama foi selecionada para tocar obras da transposição do rio São Francisco, o que se deu antes do ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) chegar ao pedaço, portanto, se tiver alguma coisa irregular é com Ciro Gomes (PSB).

A Operação Navalha antecipa a sucessão municipal em praticamente todos os 9 estados afetados. Em Camaçari, até carros de som, típicos de campanha eleitoral, foram às ruas. O Correio da Famiglia ACM caprichou na manchete antipetista. Afinal, trata-se de um dos maiores orçamentos municipais do país que o grupo carlista perdeu para o PT.

Os advogados do prefeito Caetano alegam que a administração anterior, de José Tude, do PFL, é que mantinha contrato com a Gautama, que teria expirado em 2004. Ora, Luis Caetano tomou posse em 2005. Como poderia estar envolvido?

Ao contrário, um contrato com a construtora Gautama pela administração do PFL, derrotada pelo candidato do PT, Luis Caetano, faz sentido, já que o presidente da empresa, Zuleido Veras, foi diretor da OAS. José Tude, PFL, OAS, Gautama, tudo a ver.

É preciso também lembrar que a Gautama teve como cliente a prefeitura de Salvador, na Era Imbassahy, o Governo da Bahia, na Era Paulo Souto, para construção de escolas, a prefeitura de Ilhéus (do PFL) a prefeitura de Nazaré (do PFL). Por que nada disso veio à tona?

Não se trata de desqualificar a investigação da Polícia Federal. Trata-se de continuar as investigações.

O direito brasileiro considera todos inocentes até que se prove o contrário.

Mas, depois das armações da PF contra o PT em 2005, com aquela manipulação fotográfica de um monte de dinheiro. Depois do envolvimento de um delegado federal na manipulação da mídia. Depois da prisão de juízes que vendiam sentenças, continuo tendo minhas dúvidas se há inocentes na Polícia Federal e no Poder Judiciário.

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