3 de abril de 2007

 

Do apagão à conspiração contra a democracia

Adiei todas minhas viagens aéreas. Com esse clima criado pelos militares sublevados não vou me arriscar. Vamos ser francos. Há mais de 25 anos que os controladores de vôo reclamam das condições de trabalho. Sempre foram abafados pela estúpida disciplina da caserna. Há mais de 25 anos que nenhum governo democrático tomou conhecimento dos relatos dos controladores de vôo. Eles próprios dizem isso. Não vou recuar ao tempo da ditadura militar, porque ditadura é ditadura. A verdade é que muitos desmandos do Comando Militar da Aeronáutica geraram o atual caos. O Governo Lula vai consertar isso, desmilitarizando o setor, com a ação política do ministro Waldir Pires.

Não dá para fazer omelete sem quebrar ovos. Não dá para desmilitarizar o setor sem tensão com os militares.

Essa lenga-lenga da “quebra da hierarquia” está muito desmoralizada. Em 1954 os militares quebraram a hierarquia e tentaram depor Getúlio Vargas. O golpe foi abortado pelo suicídio de Vargas. Mas em 1964, dez anos depois, o golpe militar chegou trazendo nova quebra da “hierarquia”. Os militares deviam obediência ao presidente eleito João Goulart, quebraram a hierarquia, traíram o governo e a Constituição e sujaram as mãos de sangue durante vinte anos. Não podem falar de “quebra de hierarquia” por uma dúzia de controladores de vôo.

O ministro da Defesa Waldir Pires foi o primeiro a dar voz aos controladores de vôo. Não há outra maneira de desmilitarizar o setor e modernizar a aviação.

Agora, os militares voltam a quebrar a hierarquia. Um brigadeiro chamou o ministro de canalha. Está nos jornais. Quando o Comando Militar da Aeronáutica destrata o ministro da Defesa há quebra de hierarquia. Quando militares colocam em prática um plano idiota de “derrubar” o ministro Waldir Pires no dia 31 de março, data do golpe militar de 1964, é mais que quebra da hierarquia, é conspiração. Eles tentam desmoralizar Waldir Pires como fizeram com os ex-ministros José Viegas e José de Alencar.

Com Waldir Pires é mais embaixo.

Os coronéis recusam assumir o comando dos cindactas. É mais que a quebra da hierarquia, é conspiração barata. Waldir Pires está certo. A crise vai passar, o setor da aviação será desmilitarizado. Os controladores de vôo ficarão livres da truculência dos militares. Ninguém será punido. O Ministério Público Militar – aquela mesma instituição que processava os militantes que lutavam contra a ditadura – anuncia que vai investigar e processar. Não vai dar em nada, mas estará mais uma vez plantada a “semente” do golpe militar. Quem viver verá.

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