3 de abril de 2007
Água do São Francisco para o Nordeste. Inevitável.
A transposição das águas do rio São Francisco vem aí. O projeto vai levar água para uma parte do Nordeste. Água e empregos. Desenvolvimento. O ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, continua a fazer a defesa do projeto, com brilhantismo. Grupos bem intencionados, mas equivocados, continuam combatendo o projeto. Eles contrapõem a idéia de abrir cisternas individuais ao projeto da integração das bacias. Tornaram-se surdos aos argumentos, à lógica, entrincheiraram-se no fundamentalismo religioso e até greve de fome ameaçam novamente para combater uma questão puramente de política pública. Um bispo chega a falar em nome de Deus. Ora, se outro bispo de Nordeste entrar em greve de fome a favor do projeto, quem vamos escolher para morrer à míngua? Não dá para aceitar isso. Mas há também grupos empresariais que querem a água apenas para seus empreendimentos. Ciro Gomes não chega a falar no grupo carlista que, por puro oportunismo político, combate o projeto. Uma entrevista sua à Rádio Itatiaia ajuda a esclarecer as coisas
REPÓRTER: Deputado, por que ainda há resistência à transposição do rio São Francisco, de um lado, e de outro lado há fervorosos defensores da idéia?
CIRO GOMES: Eu hoje posso dizer sem medo de cometer nenhuma injustiça que há dois grupos movimentando esse antagonismo radicalizado. Embora minoritário, cada vez bem menor, está minguando todo dia, mas são dois grupos. Um grupo está de má fé nisto, é o grupo que eu chamo do grupo da reserva de valor.
Esse grupo desconhece qualquer argumento, monta-se em argumentos nobres, como aqueles que dão conta da degradação do rio, das questões ambientais, das questões sócio-econômicas-culturais, para esconder a sua motivação, que é enquanto falta água dramaticamente em uma região extensa do país, e isso ninguém pode negar, guardar uma água que hoje está sendo jogada fora para em um futuro remoto ser aplicada no oposto do que eles advogam hoje, qual seja na expansão da agricultura irrigada para grandes grupos.
REPÓRTER: Grandes grupos?
CIRO GOMES: Eu falo claramente: Projeto Salitre, na Bahia, Projeto Pontal, em Pernambuco, Projeto Baixio de Irecê, na Bahia, Projeto Jaíba: há 80 mil hectares projetados em Minas Gerais. Esse é um ponto. O segundo ponto é um conjunto de pessoas bem intencionadas, não tenho menor dúvida, mas que também não se debruçam sobre a questão como ela está posta, porque o que está posto não é um juízo de oportunidade e de conveniência se deveríamos gastar essa montanha de dinheiro que esse projeto de integração de bacias pede ao invés de gastar bem menos fazendo cisternas domiciliares, porque não é esta a questão. As cisternas domiciliares são essenciais, têm que ser feitas, elas não negam o projeto.
Entretanto, as cisternas domiciliares têm duas contradições: primeira, ela só tem água se chover e o projeto se destina estrategicamente a suprir a cíclica falta de chuva na região. O projeto não atende a população difusa, a cisterna sim, mas a população difusa é minoria, as maiorias a quem o projeto se destina estão nas cidades, é um projeto de abastecimento humano nas cidades.
De passagem, porque não é um projeto que toma água aqui, entuba, e entrega lá no fim, de passagem, esse projeto vai permitir a exploração pela agricultura familiar: uma agricultura moderna, 100% das margens esquerda e direita dos 700 km de extensão estão declarados de utilidade pública, para fins de desapropriação e reforma agrária e na seqüência o projeto utiliza 1.000 km de rios secos do nordeste setentrional que passarão doravante a ter água, permitindo uma cultura de vazante, o que ordenaria dramaticamente de forma positiva para o país a migração que hoje abandona esse semi-árido para ir ser reserva de valor do exército da violência, do narcotráfico, da mortandade de crianças, adolescentes, e prostituição infantil nas grandes capitais do país.
Quem quiser discutir o assunto nestes termos, estando de boa fé, encontrará as respostas, mas nunca pode se opor a um presidente legitimamente eleito, um juízo de oportunidade e de conveniência que é dele por delegação popular.
REPÓRTER: O bispo de Barra está no grupo que defende as cisternas...
CIRO GOMES: Eu disse a Dom Cappio, com todo respeito, mas hoje vou levantar um pouco mais a minha voz, em nome de quem ele fala, de Deus?
Porque se ele não estivesse arvorando a falar aqui sobre esse assunto mundano em nome de Deus, ele precisa ser um pouco mais humilde e entender que se um bispo lá do Setentrional Nordestino resolver entrar em greve de fome a favor da obra, nós teremos que chegar na absurda e antidemocrática e autoritária providência de escolher qual dos dois vai morrer. Não é assim que se faz na democracia.
REPÓRTER: Ministro, as pessoas que coordenam esses protestos dizem várias coisas. Uma delas é que o preço da água pode aumentar para as populações que moram na região desse projeto.
CIRO GOMES: É preciso ser mais honesto do que isso. O projeto introduz uma modernidade que é muito gravemente necessária que se introduza o quanto antes na distribuição de água, que é um mineral finito, valorável economicamente e que o Brasil tem tratado como coisa sem valor e infinita. Não é.
As grandes lutas e tensões internacionais como agora já indicadas por estudo recente das Nações Unidas sobre o aquecimento global, uma das gravíssimas questões que está posta é a escassez de água. Portanto, a água tem que ser valorada economicamente.
Agora, evidentemente o projeto não desconsidera a desigualdade das pessoas. Então o projeto vai onerar a água, não é que vai encarecer, vai se fazer com que a água agora seja paga, só que vai ser de forma progressiva, de maneira que para a agricultura familiar e populações difusas a água será entregue gratuitamente e o custo disso será por um subsídio cruzado oneroso aos outros usos que a água do projeto São Francisco pretende destinar.
Foi criada uma concepção institucional, uma subsidiária da Companhia Chesf, que tem tradição de manejo de água para fins de energia, então ela vai onerar e quem vai pagar isso são os governos estaduais, os governos estaduais vão pagar por essa água bruta nas contas que eles quiserem no projeto e quando eles entregarem tratada a água, o povo já paga.
Estamos querendo enganar quem? Fazer terrorismo contra quem? Isso faz parte do argumento dos que estão de má fé, porque está tudo escrito. Se alguém souber de alguma falha não fique fazendo leviandades contra pessoas que podem estar nisso de boa fé e honestamente. Denuncie ao Ministério Público que está aí vigiando o projeto, denuncie para a polícia, bota a boca no trombone, ao invés de fazer insinuações levianas, generalizante, fala para você da rádio Itatiaia, que está aberta para quem quiser falar, como democrático órgão de comunicação de massa.
Então diz: tão roubando em tal lugar, porque eu, por exemplo, passei uma montanha de dinheiro para uma instituição de Minas Gerais para fazer o primeiro movimento de revitalização do São Francisco, porque as pessoas que lutam pela revitalização deixaram o Rio das Velhas morrer, o principal afluente do rio São Francisco pela margem esquerda é o Rio das Velhas e o Rio das Velhas estava recebendo efluentes in natura da indústria siderúrgica mineira. Estava recebendo esgoto sem tratamento. Morreu o Rio das Velhas, um dos mais importantes afluentes e nós financiamos uma instituição inclusive privada, da sociedade civil, porque? Porque eu confio nas pessoas. E não estou aqui para dizer que eles fizeram nenhuma malversação. Ao contrário, enquanto eu pude acompanhar tenho certeza de que as coisas andaram bem.
REPÓRTER: Deputado, por que ainda há resistência à transposição do rio São Francisco, de um lado, e de outro lado há fervorosos defensores da idéia?
CIRO GOMES: Eu hoje posso dizer sem medo de cometer nenhuma injustiça que há dois grupos movimentando esse antagonismo radicalizado. Embora minoritário, cada vez bem menor, está minguando todo dia, mas são dois grupos. Um grupo está de má fé nisto, é o grupo que eu chamo do grupo da reserva de valor.
Esse grupo desconhece qualquer argumento, monta-se em argumentos nobres, como aqueles que dão conta da degradação do rio, das questões ambientais, das questões sócio-econômicas-culturais, para esconder a sua motivação, que é enquanto falta água dramaticamente em uma região extensa do país, e isso ninguém pode negar, guardar uma água que hoje está sendo jogada fora para em um futuro remoto ser aplicada no oposto do que eles advogam hoje, qual seja na expansão da agricultura irrigada para grandes grupos.
REPÓRTER: Grandes grupos?
CIRO GOMES: Eu falo claramente: Projeto Salitre, na Bahia, Projeto Pontal, em Pernambuco, Projeto Baixio de Irecê, na Bahia, Projeto Jaíba: há 80 mil hectares projetados em Minas Gerais. Esse é um ponto. O segundo ponto é um conjunto de pessoas bem intencionadas, não tenho menor dúvida, mas que também não se debruçam sobre a questão como ela está posta, porque o que está posto não é um juízo de oportunidade e de conveniência se deveríamos gastar essa montanha de dinheiro que esse projeto de integração de bacias pede ao invés de gastar bem menos fazendo cisternas domiciliares, porque não é esta a questão. As cisternas domiciliares são essenciais, têm que ser feitas, elas não negam o projeto.
Entretanto, as cisternas domiciliares têm duas contradições: primeira, ela só tem água se chover e o projeto se destina estrategicamente a suprir a cíclica falta de chuva na região. O projeto não atende a população difusa, a cisterna sim, mas a população difusa é minoria, as maiorias a quem o projeto se destina estão nas cidades, é um projeto de abastecimento humano nas cidades.
De passagem, porque não é um projeto que toma água aqui, entuba, e entrega lá no fim, de passagem, esse projeto vai permitir a exploração pela agricultura familiar: uma agricultura moderna, 100% das margens esquerda e direita dos 700 km de extensão estão declarados de utilidade pública, para fins de desapropriação e reforma agrária e na seqüência o projeto utiliza 1.000 km de rios secos do nordeste setentrional que passarão doravante a ter água, permitindo uma cultura de vazante, o que ordenaria dramaticamente de forma positiva para o país a migração que hoje abandona esse semi-árido para ir ser reserva de valor do exército da violência, do narcotráfico, da mortandade de crianças, adolescentes, e prostituição infantil nas grandes capitais do país.
Quem quiser discutir o assunto nestes termos, estando de boa fé, encontrará as respostas, mas nunca pode se opor a um presidente legitimamente eleito, um juízo de oportunidade e de conveniência que é dele por delegação popular.
REPÓRTER: O bispo de Barra está no grupo que defende as cisternas...
CIRO GOMES: Eu disse a Dom Cappio, com todo respeito, mas hoje vou levantar um pouco mais a minha voz, em nome de quem ele fala, de Deus?
Porque se ele não estivesse arvorando a falar aqui sobre esse assunto mundano em nome de Deus, ele precisa ser um pouco mais humilde e entender que se um bispo lá do Setentrional Nordestino resolver entrar em greve de fome a favor da obra, nós teremos que chegar na absurda e antidemocrática e autoritária providência de escolher qual dos dois vai morrer. Não é assim que se faz na democracia.
REPÓRTER: Ministro, as pessoas que coordenam esses protestos dizem várias coisas. Uma delas é que o preço da água pode aumentar para as populações que moram na região desse projeto.
CIRO GOMES: É preciso ser mais honesto do que isso. O projeto introduz uma modernidade que é muito gravemente necessária que se introduza o quanto antes na distribuição de água, que é um mineral finito, valorável economicamente e que o Brasil tem tratado como coisa sem valor e infinita. Não é.
As grandes lutas e tensões internacionais como agora já indicadas por estudo recente das Nações Unidas sobre o aquecimento global, uma das gravíssimas questões que está posta é a escassez de água. Portanto, a água tem que ser valorada economicamente.
Agora, evidentemente o projeto não desconsidera a desigualdade das pessoas. Então o projeto vai onerar a água, não é que vai encarecer, vai se fazer com que a água agora seja paga, só que vai ser de forma progressiva, de maneira que para a agricultura familiar e populações difusas a água será entregue gratuitamente e o custo disso será por um subsídio cruzado oneroso aos outros usos que a água do projeto São Francisco pretende destinar.
Foi criada uma concepção institucional, uma subsidiária da Companhia Chesf, que tem tradição de manejo de água para fins de energia, então ela vai onerar e quem vai pagar isso são os governos estaduais, os governos estaduais vão pagar por essa água bruta nas contas que eles quiserem no projeto e quando eles entregarem tratada a água, o povo já paga.
Estamos querendo enganar quem? Fazer terrorismo contra quem? Isso faz parte do argumento dos que estão de má fé, porque está tudo escrito. Se alguém souber de alguma falha não fique fazendo leviandades contra pessoas que podem estar nisso de boa fé e honestamente. Denuncie ao Ministério Público que está aí vigiando o projeto, denuncie para a polícia, bota a boca no trombone, ao invés de fazer insinuações levianas, generalizante, fala para você da rádio Itatiaia, que está aberta para quem quiser falar, como democrático órgão de comunicação de massa.
Então diz: tão roubando em tal lugar, porque eu, por exemplo, passei uma montanha de dinheiro para uma instituição de Minas Gerais para fazer o primeiro movimento de revitalização do São Francisco, porque as pessoas que lutam pela revitalização deixaram o Rio das Velhas morrer, o principal afluente do rio São Francisco pela margem esquerda é o Rio das Velhas e o Rio das Velhas estava recebendo efluentes in natura da indústria siderúrgica mineira. Estava recebendo esgoto sem tratamento. Morreu o Rio das Velhas, um dos mais importantes afluentes e nós financiamos uma instituição inclusive privada, da sociedade civil, porque? Porque eu confio nas pessoas. E não estou aqui para dizer que eles fizeram nenhuma malversação. Ao contrário, enquanto eu pude acompanhar tenho certeza de que as coisas andaram bem.