8 de março de 2007

 

Delúbio Soares afirma que um dia a verdade será restabelecida

Durante almoço com a família do editor-geral do Diário da Manhã (DM), Batista Custódio, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, diz que a verdade será restabelecida, que trabalhou por uma causa e que ainda é cedo para indicar nomes à sucessão presidencial.

“Tenho paz de consciência porque trabalhei por uma causa, por um projeto. Toda a verdade será restabelecida.”

Delúbio Soares falou à imprensa pela primeira vez em quase dois anos, desde que matou no peito todas as denúncias de que o PT utilizou caixa dois nas campanhas eleitorais de 2002 e 2004.

As poucas declarações do ex-tesoureiro do partido, ainda consciente de que o silêncio é seu maior trunfo, foram dadas à reportagem domingo último (4), durante almoço em família na casa do jornalista Batista Custódio.

À vontade, com a camisa do São Paulo, time do coração, Delúbio chegou à residência do editor-geral do Diário da Manhã por volta das 10 horas e conversou animadamente até as 14 horas.

Falou da infância humilde na pequena Buriti Alegre, região sudoeste do Estado, onde os pais, Antônio Soares de Castro, seu Catonho, de 76 anos, e Jamira Soares, 72, vivem em uma fazenda – a mãe faz queijos e cuida do galinheiro; o pai, de algumas poucas cabeças de gado.

SEM OSTENTAÇÃO DE RIQUEZA

Delúbio vive em São Paulo com a companheira Mônica Valente, ex-secretária de Assuntos Institucionais do PT nacional e ex-secretária de Administração do município de São Paulo na gestão de Martha Suplicy.

Mora em um apartamento cedido pela sogra. Mas visita Buriti Alegre com freqüência. “Venho pelo menos uma vez por mês porque meus pais estão convalescentes”, resume o ex-tesoureiro, que não ostenta sinais de riqueza.

A última aparição pública de Delúbio em Goiânia foi no início dos trabalhos da Câmara Municipal, dia 15 de fevereiro. Sua passagem causou frisson entre vereadores e jornalistas.

Mas o ex-tesoureiro entrou mudo e saiu calado, incessantemente perseguido por microfones e flashes. Pressionado pela família, Delúbio foi dar um abraço no irmão Carlos Soares, que assumia cargo no Legislativo municipal em vaga aberta com a eleição de Humberto Aidar (PT) para a Assembléia Legislativa.

“Foi uma repercussão exagerada”, estranha. “Eu tinha de ir lá senão magoaria meu pai, minha mãe e meu irmão. Para a família era importante”, disse.

Delúbio atualmente vive a expectativa dos desdobramentos da investigação sobre o uso de caixa dois (ele prefere dinheiro não contabilizado) nas campanhas petistas de 2002 e 2004.

Seu nome foi incluído como um dos membros do “núcleo principal” do grupo de 40 petistas e aliados denunciados pelo procurador- geral da República, Antonio Fernando Souza.

A peça de 136 páginas foi entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 30 de março de 2006 e defende a tese da existência do “mensalão”. O futuro de Delúbio está nas mãos do ministro Joaquim Barbosa.

STF NÃO ACEITOU DENÚNCIA

“A denúncia sequer foi aceita pelo Supremo”, adverte, e lembra que já fez defesa prévia. Além de Delúbio, a denúncia pede o indiciamento de figuras como o ex-ministro José Dirceu, o ex-presidente do PT José Genoino, os publicitários Duda Mendonça e Marcos Valério, o deputado cassado Roberto Jefferson e vários ilustres petistas.

Expulso do PT no dia 22 de outubro de 2005, com 37 votos contra 16 - favoráveis a uma suspensão por três anos -, Delúbio, ao contrário de José Dirceu, prefere não falar em anistia. Também não demonstra mágoa. Tem a certeza de que, ao ser lançado aos abutres, serviu a objetivos maiores na era Lula, entre eles cita a redução das desigualdades sociais.

Demonstra a mesma lealdade canina ao presidente e ao “projeto” que o fizeram assumir sozinho, pessoa física, as negociações sobre os empréstimos do “dinheiro não contabilizado” para saldar dívidas do PT com campanhas e aliados.

Os recursos, à época R$ 40 milhões, foram inseridos nas contas eleitorais em declarações retificadoras entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Delúbio acha prematuro discutir a sucessão presidencial neste momento em que se discute a possibilidade de Lula disputar um terceiro mandato ou de se aprovar a realização de plebiscito para a adoção do parlamentarismo. Recusa-se a citar nomes. Limita-se a informar que no PT há vários.

Para ele, as eleições municipais de 2008 serão fundamentais para as definições e para o momento político nacional. Delúbio sugere que o pleito revelará muito do caminho que o eleitor deverá seguir em 2010 e que o PT deverá formar um exército de prefeitos e vereadores, principalmente no interior, onde as máquinas atuam com menor intensidade.

DE EXECRADO A POR STAR

A euforia causada pela passagem de Delúbio Soares na Câmara de Goiânia no dia 15 de fevereiro revela um aspecto inusitado da vida do ex-tesoureiro do PT. Ele virou celebridade. Ele é parado na rua por pessoas que querem cumprimentá-lo.

Recentemente, passeava pelo Goiânia Shopping quando notou que era seguido por um grupo de quatro adolescentes. Virou-se e perguntou se havia algum problema. Foi surpreendido com um pedido de autógrafo. Concedeu, mas quando lhe sugeriram uma foto juntos achou que já era demais.

Outro episódio aconteceu no jogo entre Itumbiara e Goiás, pela 3ª rodada do Campeonato Goiano, em 17 de fevereiro. Convidado pelo cantor Marrone, foi ao município do extremo sul goiano. Lá, o prefeito José Gomes (PMDB) chamou-o para ir ao gramado dar o pontapé inicial na partida. Hesitou. Mas cedeu, e para seu espanto foi saudado com gritos e aplausos pelos 10 mil torcedores que viram o time do interior vencer por 2 a 1 a forte equipe da Capital.

Apesar das manifestações espontâneas e amigáveis que recebe nas ruas, Delúbio não acha que é hora de se mostrar. Disse ao DM algumas palavras e só depois de muita insistência.

À mesa, na casa do jornalista Batista Custódio, na companhia dos empresários Imara Custódio e Geovane Gonçalves, filha e genro de Batista, da anfitriã Marly Vieira e dos pequenos João do Sonho e Maria do Céu, filhos de Batista, falou de seu modo simples de vida. “Não mudei”, disse, entre uma e outra garfada de mandioca com feijão tropeiro e churrasco comandado pelo irmão de Batista, Previsto Custódio.

PERFIL
Delúbio Soares
Homenagem ao sanfoneiro

A escolha do nome Delúbio guarda uma história curiosa, porém bastante comum no interior do País. Em nada tem a ver com a esdrúxula definição de um conhecido astrólogo brasileiro que vaticinou originar-se do latim e significar dilúvio.

Num arrasta-pé comum no interior goiano na década de 50, o pai, Antônio Soares, gostou muito do sanfoneiro. Perguntou-lhe o nome: – É Danúbio. No meio do barulho, entendeu Delúbio. Algumas semanas depois, às 14 horas do dia 16 de outubro de 1955, nascia o segundo filho, e também era homem.

Seu Antônio, humilde, foi ao cartório e fez questão de homenagear o sanfoneiro.

Delúbio hoje tem uma rotina simples. Para sobreviver, dá aulas particulares de Matemática, no próprio apartamento ou na casa do aluno. Não participa de eventos públicos, restringindo-se ao convívio familiar.

Apreciador de música, aderiu à tecnologia do iPod, transferindo o conteúdo de todos os seus CDs para o aparelhinho. Pescar e cozinhar são outras paixões. Sempre que está em Buriti Alegre pode ser encontrado na beira do rio ou do fogão. Em São Paulo, não perde os jogos do Campeonato Goiano pela DMTV.

Apesar da origem humilde, Delúbio conseguiu formar-se e virou professor de Matemática. É um dos fundadores do PT em Goiás. Iniciou sua militância política na década de 70, no Movimento da Anistia, em Goiânia. Tornou-se sindicalista no antigo Centro dos Professores de Goiás (CPG), depois convertido no Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado de Goiás (Sintego).

No CPG foi eleito delegado ao Congresso de Fundação da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em 1983. Foi presidente da CUT no final da década de 80 e conselheiro do FAT indicado pela central no governo Fernando Henrique Cardoso.

Foi tesoureiro das campanhas de Lula em 1989, 1998 e 2002. Em 1994, coordenou a campanha de Luiz Antônio de Carvalho (PT) ao governo de Goiás.

FONTE:
http://www.dm.com.br/impresso.php?id=176007&edicao=7060&edicao=7060

Transcrito do blog POR UM NOVO BRASIL
http://por1novobrasil.blogspot.com/

Comments: Postar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?