30 de agosto de 2006
Amnésia social e política, golpismo e a suposta "morte" do PT
A filósofa Marilena Chauí, em seu livro “Simulacro e Poder”, no capítulo que trata da Democracia e Autoritarismo, dá uma pista para entender a obsessão, de certos “formadores de opinião”, em desgastar a imagem do Partido dos Trabalhadores (PT). Não apresentam números, não apresentam pesquisas, não apresentam nada, além da pobre “opinião”. Os chavões se repetem: dizem que “o PT se desintegra”, que o “PT acabou”, que existiu “um desvairado sistema de corrupção” e por aí vão se repetindo.
Trata-se da produção midiática da amnésia social e política, baseada na redução do PT aos atos de suas direções e de alguns poucos parlamentares. A direita quer varrer da memória histórica a formação do PT, seu fundamental papel na criação da cidadania dos trabalhadores e dos direitos sociais, suas vitoriosas políticas institucionais – como o Orçamento Participativo ou os conselhos populares, por exemplo. Tudo isso vai sendo lançado ao esquecimento, enquanto se vai produzindo a imagem dos que apenas praticaram “uma corrupção jamais vista no Brasil”, conforme as palavras de FHC e seus asseclas. “Os próprios petistas não se deram conta do sentido dos acontecimentos de 2005/2006 como produção de amnésia social e política”.
Sintomaticamente, todos os institutos deixaram de pesquisar a preferência partidária dos eleitores. As pesquisas fortaleciam o PT. Ao contrário do que afirmam os prognósticos dos “deformadores de opinião”, pelas últimas pesquisas de opinião não há indicação de “desintegração” do PT. O anti-jornalismo da revista Veja, em junho, chegou a estampar a manchete “Morre o petismo, nasce o lulismo”. Não diria que se trata de um “erro” porque se trata muito mais de propaganda política anti-PT.
Uma pesquisa do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, avaliou que, em maio de 2006, o PT continuava sendo, de longe, o partido mais preferido entre os eleitores brasileiros que demonstram alguma preferência partidária. O índice de simpatia pelo PT é próximo dos 26%, registrado às vésperas da eleição de Lula em outubro de 2002.
Em torno de 33 a 35 milhões de brasileiros demonstram hoje simpatia pelo PT, em um país onde 50% a 60% da população não demonstram qualquer preferência partidária!
Claro que houve mudanças na imagem do PT. Cresceu de 4% para 27% o porcentual dos brasileiros que avaliam o partido como o que tem mais políticos corruptos, refletindo a exacerbação do diagnóstico como fruto da mais sistemática e violenta campanha difamatória já orquestrada contra um partido da esquerda na história brasileira.
Caiu de 25% para 20% o número dos que julgam o PT diferente de todos os outros. Mas cresceu de 24% para 34% aqueles que avaliam o PT como o partido mais aberto à população e de 21% para 29% os que o apontam como o que mais defende a justiça social. Cerca de 40% consideram o PT como o partido que mais defende os pobres. Como explicar que no ano da “crise” 50 mil novos militantes tenham se filiado? Faz algum sentido reduzir um partido de 840 mil pessoas a cinco, seis, dez dirigentes? lembrava há poucos dias o presidente do PT da Bahia, Marcelino Galo, em resposta ao jornalista Samuel Celestino, de A Tarde.
Em que se baseia então a conclusão de certos “deformadores de opinião”? Em nada.
No Nordeste, onde a votação de Lula é maior, é onde hoje também o PT encontra a sua maior simpatia (31%) e o mesmo fenômeno, de sentido inverso, ocorre na região Sul. Se Alckmin obteve na pesquisa Datafolha, de junho, cerca de 29% das intenções de voto, apenas 7% dos eleitores manifestaram preferência pelo PSDB.
Em um país onde a representação na Câmara dos Deputados não obedece a um critério estrito de proporcionalidade, havendo sistemática superestimação da representação para estados menos populosos, tem peso para a performance eleitoral dos partido o grau de sua nacionalização e de penetração nas cidades médias e pólos que exercem liderança econômica em regiões.
Nestes dois critérios, o PT é hoje seguramente mais forte do que era em 2002, tendo expandido em 37% a sua votação nas eleições municipais de 2004, além de ter mais que dobrado o número de prefeituras conquistadas, com grande expansão no Norte e no Nordeste. Os partidos liberais e conservadores não têm, como em 2002, o acesso à máquina do governo federal que, em suas mãos, se traduziu historicamente em forte poder de irradiação e clientelismo.
O estudo monográfico mais denso e instigante sobre a evolução do desempenho eleitoral dos partidos brasileiros, desde a redemocratização do país, é da autoria da cientista política Helcimara de Souza Telles, apresentado ao programa de doutorado em processos políticos contemporâneos da Universidade de Salamanca, na Espanha.
O estudo chega a importantes conclusões. Destaco duas. De 1982 a 2002 ocorre um contínuo avanço dos votos dados aos partidos de esquerda (em um sentido amplo) ao mesmo tempo que se nota uma oscilação dos partidos de centro e um recuo não linear dos votos dos partidos de direita.
Uma conclusão importante é a de que o crescimento do PT não se deu em detrimento de outras representações de esquerda, como o PSB e o PDT. Não haveria, como se diz com muita freqüência, um patamar fixado de votos ideológicos à esquerda que se repartiria por uma competição endógena entre suas vertentes. Mas há uma expansão de conjunto do patamar de votos da esquerda, em um sentido amplo, em relação ao centro e à direita.
Isso deve deixar a burguesia de cabelo em pé.
No ensaio intitulado “A melancolia do jornalismo que se julgava dono de povo”, Adalberto Monteiro comenta que, nas colunas dos duques e marquesas dos jornais, escorre um misto de ira, espanto e tristeza diante do favoritismo do presidente Lula. Não podendo desmentir as sucessivas pesquisas de opinião resta-lhes manifestar a arrogância prevendo a “morte do PT”.
Certos articulistas e certos colunistas políticos não andam escrevendo análises, proclamam sentenças de morte. Os meses se passam e os jornalistas “togados” perdem a autoridade. E ouve-se o “lamento”. “Como é que a maioria inclina-se para reeleger Lula, se nós, os formadores de opinião, durante mais de um ano, temos afirmado e reafirmado, temos sentenciado a cada minuto, a cada hora, dia após dia, que Lula não passa de um chefe de quadrilha?”
Em todos eles há um nítido desprezo pelo povo brasileiro. Os “de baixo” se movem em direção contrária ao que lhes ordena a mídia dos “de cima”.
São os “deformadores de opinião”, segundo a análise de Marco Aurélio Garcia (Assessor Especial de Relações Internacionais da Presidência da República) publicada na Tribuna da Imprensa (30/08/06). Inconformados, empenham-se em desclassificar a credibilidade do processo democrático e eleitoral. Estão na contracorrente do progresso democrático. São golpistas, e fazem ressurgir algo que parecia arquivado na história do Brasil.
Não se enganem. O destempero de Fernando Henrique Cardoso convocando a oposição para “botar fogo no palheiro” e até “fogo no Brasil”; o show de xingamentos de ACM no Senado contra Lula, tudo isso é um esforço para despolitizar o debate e desqualificar o processo democrático.
A obsessão em desqualificar o PT, em reduzir uma história de 26 anos em um único episódio, faz parte dessa trama. Os jornalistas que repetem a “morte do PT”, a “desintegração” do PT, conscientemente ou não estão a serviço “deles”.
Trata-se da produção midiática da amnésia social e política, baseada na redução do PT aos atos de suas direções e de alguns poucos parlamentares. A direita quer varrer da memória histórica a formação do PT, seu fundamental papel na criação da cidadania dos trabalhadores e dos direitos sociais, suas vitoriosas políticas institucionais – como o Orçamento Participativo ou os conselhos populares, por exemplo. Tudo isso vai sendo lançado ao esquecimento, enquanto se vai produzindo a imagem dos que apenas praticaram “uma corrupção jamais vista no Brasil”, conforme as palavras de FHC e seus asseclas. “Os próprios petistas não se deram conta do sentido dos acontecimentos de 2005/2006 como produção de amnésia social e política”.
Sintomaticamente, todos os institutos deixaram de pesquisar a preferência partidária dos eleitores. As pesquisas fortaleciam o PT. Ao contrário do que afirmam os prognósticos dos “deformadores de opinião”, pelas últimas pesquisas de opinião não há indicação de “desintegração” do PT. O anti-jornalismo da revista Veja, em junho, chegou a estampar a manchete “Morre o petismo, nasce o lulismo”. Não diria que se trata de um “erro” porque se trata muito mais de propaganda política anti-PT.
Uma pesquisa do Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo, avaliou que, em maio de 2006, o PT continuava sendo, de longe, o partido mais preferido entre os eleitores brasileiros que demonstram alguma preferência partidária. O índice de simpatia pelo PT é próximo dos 26%, registrado às vésperas da eleição de Lula em outubro de 2002.
Em torno de 33 a 35 milhões de brasileiros demonstram hoje simpatia pelo PT, em um país onde 50% a 60% da população não demonstram qualquer preferência partidária!
Claro que houve mudanças na imagem do PT. Cresceu de 4% para 27% o porcentual dos brasileiros que avaliam o partido como o que tem mais políticos corruptos, refletindo a exacerbação do diagnóstico como fruto da mais sistemática e violenta campanha difamatória já orquestrada contra um partido da esquerda na história brasileira.
Caiu de 25% para 20% o número dos que julgam o PT diferente de todos os outros. Mas cresceu de 24% para 34% aqueles que avaliam o PT como o partido mais aberto à população e de 21% para 29% os que o apontam como o que mais defende a justiça social. Cerca de 40% consideram o PT como o partido que mais defende os pobres. Como explicar que no ano da “crise” 50 mil novos militantes tenham se filiado? Faz algum sentido reduzir um partido de 840 mil pessoas a cinco, seis, dez dirigentes? lembrava há poucos dias o presidente do PT da Bahia, Marcelino Galo, em resposta ao jornalista Samuel Celestino, de A Tarde.
Em que se baseia então a conclusão de certos “deformadores de opinião”? Em nada.
No Nordeste, onde a votação de Lula é maior, é onde hoje também o PT encontra a sua maior simpatia (31%) e o mesmo fenômeno, de sentido inverso, ocorre na região Sul. Se Alckmin obteve na pesquisa Datafolha, de junho, cerca de 29% das intenções de voto, apenas 7% dos eleitores manifestaram preferência pelo PSDB.
Em um país onde a representação na Câmara dos Deputados não obedece a um critério estrito de proporcionalidade, havendo sistemática superestimação da representação para estados menos populosos, tem peso para a performance eleitoral dos partido o grau de sua nacionalização e de penetração nas cidades médias e pólos que exercem liderança econômica em regiões.
Nestes dois critérios, o PT é hoje seguramente mais forte do que era em 2002, tendo expandido em 37% a sua votação nas eleições municipais de 2004, além de ter mais que dobrado o número de prefeituras conquistadas, com grande expansão no Norte e no Nordeste. Os partidos liberais e conservadores não têm, como em 2002, o acesso à máquina do governo federal que, em suas mãos, se traduziu historicamente em forte poder de irradiação e clientelismo.
O estudo monográfico mais denso e instigante sobre a evolução do desempenho eleitoral dos partidos brasileiros, desde a redemocratização do país, é da autoria da cientista política Helcimara de Souza Telles, apresentado ao programa de doutorado em processos políticos contemporâneos da Universidade de Salamanca, na Espanha.
O estudo chega a importantes conclusões. Destaco duas. De 1982 a 2002 ocorre um contínuo avanço dos votos dados aos partidos de esquerda (em um sentido amplo) ao mesmo tempo que se nota uma oscilação dos partidos de centro e um recuo não linear dos votos dos partidos de direita.
Uma conclusão importante é a de que o crescimento do PT não se deu em detrimento de outras representações de esquerda, como o PSB e o PDT. Não haveria, como se diz com muita freqüência, um patamar fixado de votos ideológicos à esquerda que se repartiria por uma competição endógena entre suas vertentes. Mas há uma expansão de conjunto do patamar de votos da esquerda, em um sentido amplo, em relação ao centro e à direita.
Isso deve deixar a burguesia de cabelo em pé.
No ensaio intitulado “A melancolia do jornalismo que se julgava dono de povo”, Adalberto Monteiro comenta que, nas colunas dos duques e marquesas dos jornais, escorre um misto de ira, espanto e tristeza diante do favoritismo do presidente Lula. Não podendo desmentir as sucessivas pesquisas de opinião resta-lhes manifestar a arrogância prevendo a “morte do PT”.
Certos articulistas e certos colunistas políticos não andam escrevendo análises, proclamam sentenças de morte. Os meses se passam e os jornalistas “togados” perdem a autoridade. E ouve-se o “lamento”. “Como é que a maioria inclina-se para reeleger Lula, se nós, os formadores de opinião, durante mais de um ano, temos afirmado e reafirmado, temos sentenciado a cada minuto, a cada hora, dia após dia, que Lula não passa de um chefe de quadrilha?”
Em todos eles há um nítido desprezo pelo povo brasileiro. Os “de baixo” se movem em direção contrária ao que lhes ordena a mídia dos “de cima”.
São os “deformadores de opinião”, segundo a análise de Marco Aurélio Garcia (Assessor Especial de Relações Internacionais da Presidência da República) publicada na Tribuna da Imprensa (30/08/06). Inconformados, empenham-se em desclassificar a credibilidade do processo democrático e eleitoral. Estão na contracorrente do progresso democrático. São golpistas, e fazem ressurgir algo que parecia arquivado na história do Brasil.
Não se enganem. O destempero de Fernando Henrique Cardoso convocando a oposição para “botar fogo no palheiro” e até “fogo no Brasil”; o show de xingamentos de ACM no Senado contra Lula, tudo isso é um esforço para despolitizar o debate e desqualificar o processo democrático.
A obsessão em desqualificar o PT, em reduzir uma história de 26 anos em um único episódio, faz parte dessa trama. Os jornalistas que repetem a “morte do PT”, a “desintegração” do PT, conscientemente ou não estão a serviço “deles”.