5 de julho de 2006

 

As Mariposa, de Adoniran Barbosa, e a rebelião da língua escravizada

Estava lendo A Linguagem Escravizada: Língua, História, Poder e Luta de Classes, de Florence Carboni e Mário Maestri, pela Editora Expressão Popular. Os autores apresentam seus artigos em abordagens marxistas sobre cultura e linguagem, como os estudos de Gramsci e o de Mikail Baktin de Marxismo e Filosofia da Linguagem. A idéia é discutir o caráter classista do ato de compreender e impor a língua das elites, como único código lingüístico nacional, bem como expor o padrão culto das elites a uma crítica e a uma prática que permitam o desvelamento e a superação de sua essência de classe. Um livro militante.

Pensando nisso tudo é que me lembrei do texto de Adoniran Barbosa, de 1964. Também pensei em remeter o texto, como declaração de amor, para Kátia Maria, minha namorada, mas isso é outra história. Segue o poema:

As Mariposa

As mariposa quando chega o frio
Fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si esquentá
Elas roda, roda, roda, dispois si senta
Em cima do prato da lâmpida pra discansá

Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas as noite, só pra mi beijá.

- Boa noite, lâmpida!
- Boa noite, mariposa!
- Pelmita-me oscular-lhe as alfácias?
- Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi apaga.

Em Demônio da Garoa – Trem das Onze, Chancecler, 1964.

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