19 de outubro de 2013
Comissão da Verdade Rubens Paiva faz homenagem a Gildo Lacerda, morto na tortura em 1973
Eu e Emiliano José vamos à audiência pública em homenagem ao
companheiro Gildo Macedo Lacerda, programada pela Comissão da Verdade Rubens
Paiva, no auditório Teotônio Vilela, da Assembleia Legislativa de São Paulo,
dia 25, sexta-feira, às 14h. Fomos convidados pela colega jornalista Mariluce
Moura, então mulher e companheira de Gildo Macedo Lacerda. Mãe de Tessa, que
não pode conhecer o pai.
Completam-se 40 anos, desde aquele 22 de outubro de 1973,
quando fomos presos pela Polícia Federal de Salvador. Vi Gildo Lacerda vivo
pela última vez no dia seguinte, já no Quartel do Barbalho, conhecido centro de
tortura. Nesse dia, Emiliano José estava preso na Penitenciária Lemos de Brito,
onde passou quatro anos. Lá, todos esperavam a chegada de Gildo, como mais um preso
político. Não chegou, foi assassinado na tortura e seu corpo nunca apareceu. Em
2013, Emiliano José lançou o livro “Lembranças do Mar Cinzento. Golpe. Tortura.
Verdade”, em que incorpora o artigo “Outubro Sangrento”, título de seu artigo
publicado no site da revista Carta Capital, ainda em 2008.
Minha história de militância política está ligada à de Gildo
Macedo Lacerda e José Carlos da Mata Machado, também assassinado naquele
outubro sangrento. Fomos processados juntos, ambos à revelia, pela ditadura
militar, em Minas Gerais. Foram denunciados 37 militantes da Ação Popular no processo
que está arquivado na Auditoria da Justiça Militar da 4ª CJM, Juiz de Fora. Os
que foram presos em 1969 foram barbaramente torturados, e condenados a três,
quatro anos de prisão. Como eu e Gildo escapamos do cerco e entramos na
clandestinidade, levamos seis meses de prisão, sem direito a defesa, portanto, e
com base em depoimentos de terceiros tomados na tortura. Os julgamentos dos
tribunais militares eram mesmo uma grande farsa.
Gildo Macedo Lacerda, 21 anos, dizem os registros, codinome
Frederico ou Fred, foragido, foi denunciado como dirigente regional da Ação
Popular, responsável pelo movimento estudantil. Oldack de Miranda, 24 anos, foi
denunciado por tentar sublevar os camponeses da Mata do Jaíba, no norte de
Minas Gerais. As prisões que redundaram no “processo dos 37 da Ação popular” de
Minas Gerais ficaram conhecida pela extremada violência das torturas. O
processo foi encerrado em abril de 1972, quando as denúncias começaram a ganhar
força na Europa e Estados Unidos.
Em 1973, nos reencontramos na Bahia. Eu, Gildo Lacerda e
Mata Machado. Até que os psicopatas militares os executaram na tortura, no trágico
outubro sangrento. Passaram-se 40 anos. Nós podemos homenageá-los,
publicamente. Seus assassinos não podem sequer ser citados, porque cometeram um
crime hediondo. Há 40 anos, no Quartel do Barbalho, vi Gildo Lacerda vivo pela última vez...
Há 40 anos –
22 de outubro de 1973 – policiais me deram voz de prisão, em Salvador. Na
Polícia Federal, eu soube depois que também estavam presas as jornalistas
Mariluce Moura e Nadja Magalhães Miranda. Fiquei a maior parte do tempo com
olhos vendados. Um elemento suspendeu ligeiramente a venda e pude ver a farda
verde. Estava nas mãos do Exército Brasileiro. Tempos depois soube que era um oficial
do DOI/6ª Região Militar. À noite me levaram para o Quartel do Barbalho. A cela
tinha paredes úmidas e grossas barras de ferro. Num cantinho, uma lata de
querosene como sanitário.
Foi uma
longa noite. Pela manhã me fizeram atravessar o pátio do quartel. Encapuzado,
me empurravam, subi uma rampa e passei a ser interrogado numa sala. Um soldado
me disse que era o refeitório dos oficiais e o rádio em volume alto era para
abafar os gritos, já que havia uma rua vizinha ao quartel. Foi um dia de
terror, porradas, socos, e me fizeram subir naquelas latinhas que cortavam os
pés. O interrogatório não durou muito tempo. Logo me trouxeram de volta à cela
medieval. Foi então que vi Gildo Macedo Lacerda sendo empurrado, encapuzado,
com muita violência, em direção ao pátio, tinha uma ferida no pé muito inchado
que o fazia mancar, e eles o empurravam brutalmente para que sentisse dor. Já
era tortura a maneira como o empurravam.
Não sei mais
com exatidão quantos dias fiquei naquela cela do Quartel do Barbalho. Sei que
um dia me deixaram tomar banho, vestir minhas roupas limpas, fui jogado num
camburão e transportado para a Base Aérea da Aeronáutica, integrada ao
Aeroporto Dois de Julho de Salvador. Algemado, fui levado pela FAB para Recife.
Encapuzado, me levaram para o quartel do DOI/CODI, mantido incomunicável. Até
que começaram os interrogatórios. Me dependuraram no pau-de-arara, fixaram fios em meu saco e rodaram a maquininha de
choques. Uma coisa indescritível. Aquilo me fazia abrir a boca
involuntariamente e aparentar uma risada. E eles ficavam mais descontrolados. E
aumentavam as cargas.
Um dia, 28
de outubro, um dos torturadores me disse baixinho no ouvido: “sabe o Zé Carlos
e o Gildo? Já era”. Fiquei assim sabendo da execução, sob tortura, dos
companheiros contemporâneos de escola e militância política, José Carlos da
Mata Machado e Gildo Macedo Lacerda. A família Mata Machado pode enterrar seu
filho, mas a família de Gildo nunca conseguiu localizar o seu corpo.
Sobrevivi.
Não é possível perdoar, não é possível esquecer. E passaram-se 40 anos.
Malditos.
Marina Silva perdeu o encanto ao aderir à "velha política"
Impressionante. Marina Silva (?), ambientalista radical a
ponto de romper com o PT, aliou-se a Eduardo Campos (PSB), em busca do poder. É
um poço de contradições. Eduardo Campos estava de compromisso com Ronaldo
Caiado, do DEM de Goiás, ruralista extremado, inimigo declarado dos
trabalhadores rurais, das comunidades indígenas, e responsável pela derrota do
Código Florestal no Congresso Nacional. O PSB estava também de aliança com Paulo
Bornhausen, filho de Jorge Bornhausen, radicais de direita, antigos donos do PFL,
com muito poder na era FHC. Sem falar no apoio do abominável ex-senador
Heráclito Fortes (DEM), serviçal do banqueiro Daniel Dantas. Desse jeito, como
iria o PSB “enterrar a velha política”?
Digo poço de contradições porque o PSB - agora partido de
Marina - tem como vice-presidente nacional o ex-ministro da Ciência e
Tecnologia Roberto Amaral, que defende a energia nuclear no Brasil, assim como
o enriquecimento de urânio para desenvolvimento de armas nucleares. Aliás, Eduardo
Campos, ex-ministro da Ciência e Tecnologia, também defende a energia nuclear. Portanto,
trata-se de uma grande empulhação o desenvolvimento sustentável de Marina
Silva. Como ela vai combinar a preservação ambiental com o desenvolvimentismo tradicional
pregado por Eduardo Campos?
Vamos raciocinar. Não passa do mais reles oportunismo
político essa adesão de Marina Silva ao PSB. Ela defende o desenvolvimento
sustentável, o fim do crescimento acelerado, e ele prega a expansão da economia
e a transformação do Brasil num canteiro de obras, um PIBão, ou seja, mais
impacto no meio ambiente. Me enganem que eu gosto.17 de outubro de 2013
O ex-oficial da PM, pastor Átila Brandão, me processou. Sou réu e estou citado.
São 11 horas de 17 de outubro de 2013. Acabo de receber do
oficial de justiça da 29ª Vara dos Feitos Cíveis...etc um mandado de citação. A rigor, trata-se do
processo do ex-oficial da PM e atual pastor evangélico, Átila Brandão, contra o
jornalista, escritor e professor Emiliano José, que escreveu o artigo “A
premonição de Yaiá”, publicado no jornal A Tarde. O pastor obteve liminar para
censurar o site do jornalista e exibir resposta no jornal. O Tribunal de
Justiça derrubou a censura, mas o processo prosseguiu. E por que eu fui intimado? Porque o
ex-oficial da PM apresentou um “aditamento à petição inicial”, ou seja, me
incluiu no processo contra Emiliano José. E por que? Porque divulguei reportagem
da revista CartaCapital que chama o bispo de torturador da ditadura. Com um
agravante segundo ele, faço jornalismo político. Ele me acusa de reproduzir em
meu blog artigos da autoria de Emiliano José e da revista CartaCapital sobre
fatos acontecidos durante a ditadura, quando ele, o então tenente da PM, foi
acusado de torturar o preso político Renato Afonso no Quartel dos Dendezeiros,
em Salvador. Portanto, sou réu, e estou citado.
13 de outubro de 2013
Em ano eleitoral, Bolsa Família vira alvo dos idiotas políticos
Os endinheirados do Brasil e seus representantes políticos
transformam em alvo de ataque o programa Bolsa Família, nos períodos eleitorais. Os ataques já começaram através, como sempre, de nada sutis pautas
de “jornalismo”. Tentam desclassificar o programa social por erros
administrativos da Caixa, das prefeituras e instâncias governamentais e até
mesmo por fraudes nas inscrições. Diante do sucesso como fator de distribuição
de renda, justiça social e dinamização da economia, a mídia deixa de debater o
mérito para se concentrar nas falhas. Nunca deu certo.
Ana Fonseca, pesquisadora do Núcleo de Estudos de Políticas
Públicas da Unicamp, ex-secretária-executiva do Bolsa Família e Carlos Lopes,
secretário-executivo da Comissão Econômica da ONU para a África do Sul
assinaram recentemente (Folha de S. Paulo, 10/10/2013) um artigo intitulado “Uma
década de Bolsa Família”. Eles concluem que os dez anos do maior programa de
transferência de renda do mundo só podem ser motivo de orgulho e esperança para
o Brasil, coisa digna de celebração. Os resultados foram esvaziando o debate em
torno do mérito e sobram os argumentos pobres que exploram falhas
administrativas e pontuais desvios de conduta.
O que aconteceu em dez anos? O programa Bolsa Família desde
quando foi implantado em 2003 (com 3,6 milhões de famílias) e um benefício de
R$ 74 mensais, em média, passou a atender a 13,8 milhões de famílias, com um benefício
mensal de R$ 152, em média. Foi mérito do Governo Lula, mas, foi uma construção
coletiva, fruto de um processo histórico que logrou aperfeiçoar uma engenharia
social capaz de enfrentar a miséria. O incrível é que o PSDB, tendo colaborado
com o nascimento do programa, tenha se dedicado a criticar o programa. De certa
forma, abdicou de sua participação, num debate superficial eleitoreiro de muita
má-fé.
Os estudiosos do Bolsa Família identificam as primeiras
experiências de renda mínima em 1995 em Campinas e Ribeirão Preto (SP) e no Distrito Federal.
Tanto que o ex-presidente Lula, em 2003, adotou a expressão “Bolsa Família, uma
evolução dos programas de complementação de renda com condicionalidades”, claramente
reconhecendo as experiências anteriores. De certa forma, ele neutralizava os
ataques estúpidos partidos dos tucanos. O Cadastro Único Federal foi a grande
conquista, a razão do sucesso. Em 2003 estavam registradas 17,2 milhões de
famílias. Antes havia vários cadastros. O Bolsa Escola repassava mensalmente R$
24,80; O Bolsa Alimentação R$ 21. Vieram os seminários nacionais do cadastro
único reunindo gestores das várias instâncias. Em 2011, o governo federal
inseriu o Bolsa Família numa política mais ampla de transferência de renda, com
o plano Brasil Sem Miséria, assumindo o compromisso de renda mínima de R$ 70
aos brasileiros na faixa da extrema pobreza.
Atualmente, o Bolsa Família virou referência de distribuição
de renda no mundo inteiro. Ainda assim, idiotas políticos tentam desqualificar
o programa. Idiotas políticos e jornalistas idiotas.