5 de novembro de 2011

 

Zé Dirceu, fatos e versões


Por Cláudio Carvalho
Nos tempos de estudante de história, uma das coisas que mais me impressionava era a responsabilidade concernente aos historiadores como guardiães da memória coletiva. Hoje, distante das expectativas juvenis em relação ao ofício, sustento uma posição ética: a preocupação em separar fatos e versões.
Na recente historiografia brasileira, conhecemos algumas injustiças históricas. Um exemplo emblemático foi o tratamento dado por historiadores e setores da própria esquerda a figuras importantes como o presidente deposto, João Goulart, por um golpe de estado, em 1964; afastado da presidência, exilado e morto fora do seu país. Esse trabalho tem sido feito, com destaque para a imprensa baiana, em consistentes artigos publicados na página de opinião de A Tarde, pela historiadora Maísa Paranhos.
Recentemente foi noticiado pela imprensa o parecer do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pedindo o indiciamento e a prisão de 36 réus envolvidos no escândalo chamado de “mensalão”. Dentre os réus, está o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula, José Dirceu.

Político com uma biografia (não ficha corrida), que é um verdadeiro patrimônio histórico de serviços prestados ao país, responsável por uma inflexão importante na condução de um ex-torneiro mecânico à presidência da República e um dos artífices da retomada de um projeto soberano nacional. Acusado de chefiar uma “quadrilha sofisticada”, aguarda, combativamente, o seu julgamento no STF, enquanto cumpre pena da cassação política injusta pela Câmara Federal (um desrespeito aos seus mais de meio milhão de eleitores) e da condenação pública por parte da imprensa, invertendo o ônus da prova para o acusado, em mais um achincalhe da nossa democracia em processo de consolidação.

Acredito que não é preciso esperar quatro décadas para estabelecer a diferença entre o fato e as suas versões, por entender que o compromisso com a verdade e a memória é um dever de todos e cada um de nós. Que o STF julgue o mais rápido possível e que a justiça e a verdade prevaleçam. Ao final do julgamento, Zé Dirceu no xadrez... da política, a nos honrar em vida.

Claudio Carvalho é Psicanalista e Professor de história e filosofia
Publicado originalmente em A Tarde.


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