6 de julho de 2008

 

Tânia Bacelar explica como e porque o Brasil está mudando

O transatlântico Brasil, paquidérmico e lento, está mudando. A economista e socióloga Tânia Bacelar (UFPE) em artigo intitulado “Globalização e Território”, publicado no Le Monde Diplomatique Brasil (junho de 2009), depois de lembrar que a inserção do Brasil no sistema global ocorreu com a própria conquista e colonização, deixando-nos três heranças históricas (vastidão geográfica, forte assimetria regional e escandalosa desigualdade social) ao longo dos séculos, ela afirma que o país tem mudado. E a principal mudança é a desconcentração econômica para fora do Sudeste, além da modificação no padrão da distribuição de renda.

Do ponto de vista da indústria, a mudança já é muito grande. A região metropolitana de São Paulo chegou a ter 43% da indústria do país, mas recuou para 22%. O Estado de São Paulo detinha 60% das indústrias, mas caiu para 44%. Ao mesmo tempo muitas indústrias foram para Manaus e o Nordeste dobrou seu peso nacional. Observa-se um processo de relocalização industrial, que está em curso desde os anos 1970. Há também alteração na composição etária da população. Há menos nascimentos e gente vivendo mais. A localização espacial das populações está mudando também. O Centro-Oeste e o oeste do Nordeste, antes desocupados, estão sendo preenchidos econômica e demograficamente.

Tânia Bacelar citou um estudo do professor Clélio Campolina (UFMG). Tomando como referência o ano 1975, ele dividiu os anos seguintes em quinqüênios. Antes, o Nordeste perdia 900 mil pessoas a cada cinco anos, agora está perdendo 700 mil pessoas. A emigração se reduziu. Os migrantes saem da zona rural, mas vão para as cidades médias do próprio Nordeste ou para a fronteira agrícola. Não vão mais para São Paulo que já tem 2 milhões de desempregados. O Sul cresce, o Norte cresce, o Centro-Oeste mantém-se atrativo, recebendo 300 mil pessoas por qüinqüênio. O processo é de desconcentração industrial e demográfica, em plena era da globalização.

A mudança mais interessante é a emergência do Nordeste, antes visto como região problemática. Tânia Bacelar critica a máxima neoliberal “pensar globalmente e agir localmente”. É que os agentes globais não querem saber de escala nacional, regulações, querem ter total liberdade nos territórios alheios. A mais contestada é a escala nacional. Afinal, aí é que a luta social conseguiu impor regulações ao capitalismo. A legislação trabalhista é nacional, assim como o salário mínimo, a moeda e o Estado. Para o capital, o território é apenas “palco de operações”, para ela os territórios são “construções sociais”. O Brasil muda e redefine sua inserção na era da globalização.

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