16 de abril de 2008

 

Transparência reduzida na Folha de S. Paulo

De Luciano Martins Costa para o Observatório da Imprensa.

A Folha de S.Paulo anunciou seu novo ombudsman. Carlos Eduardo Lins da Silva, doutor e livre-docente da USP, assume no lugar de Mario Magalhães, para um mandato de um ano, renovável por mais dois.

Magalhães ficou apenas um ano no cargo. Seu contrato não foi renovado porque ele não concordou com a decisão da direção da Folha, de não mais divulgar na internet a crítica interna diária produzida pelo ombudsman.

No anúncio do nome do novo "defensor dos leitores", a direção do jornal paulista afirma que a crítica interna vinha sendo "utilizada pela concorrência e instrumentalizada por jornalistas ligados ao governo federal".

Em declaração reproduzida por seu jornal, o diretor de Redação, Otávio Frias Filho, considera que a distribuição irrestrita da crítica interna era incongruente, uma vez que o próprio conteúdo do jornal na internet é restrito aos assinantes.

Cabe ao ombudsman criticar, e à direção tomar as decisões que considera mais adequadas, afirma.

Ou seja, manda quem pode, obedece quem tem juizo.

Para os leitores do jornal, sobra uma insuperável desconfiança de que a transparência nessa relação foi reduzida, e que, a despeito de todas as qualificações do novo titular, a figura do ombudsman fica um pouco menor com a nova restrição.

Mas, como diz seu diretor, cabe ao jornal tomar as decisões que considera mais adequadas.

De qualquer modo, resta ainda uma questãozinha a merecer melhor esclarecimento.

O que significa exatamente a instrumentalização da crítica interna por jornalistas ligados ao governo federal?

Lançada assim, sem maiores explicações, a afirmação deixa no ar algumas suspeitas que, a rigor, o bom jornalismo não recomenda, já que é função da imprensa esclarecer, não produzir mais dúvidas.

Ficam os leitores agora imaginando quem são os "jornalistas ligados ao governo federal", e como isso poderia prejudicar um jornal.

Por que não preocupar-se também com "jornalistas ligados ao prefeito", "jornalistas ligados ao governador", "jornalistas ligados à Fiesp" ou à torcida organizada do Corinthians?

A menos que tenha outros interesses além da notícia, um jornal não deveria levar muito em conta o que pensam dele os eventuais donos do poder.

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