23 de julho de 2006

 

Duas versões para uma só farsa na região do cacau

Dois jornais baianos noticiaram a movimentação dos “cacauicultores” no sul da Bahia, neste final de semana. Sem citar um nome sequer dos líderes da tal manifestação contra o bioterrorismo, a Tribuna da Bahia faz o jogo dos políticos do PFL, que pongam nas asas da denúncia do réu confesso Franco Timóteo na revista Veja. A Tribuna da Bahia chega a afirmar que 10 mil pessoas bloquearam o trânsito no cruzamento que liga a BR-101 à BR-415. É evidente que prefeitos praticaram crime de improbidade administrativa, ao financiarem com dinheiro público o transporte de seus eleitores. Houve até trio elétrico e ponto facultativo. A Tribuna da Bahia, entretanto, não cita quais prefeituras, resguardando prefeitos e prefeituras em caso de uma investigação da Polícia Federal e do Ministério Público.

Já o jornal A Região, de Itabuna, do insuspeito e anti-petista jornalista Marcel Leal, avisa que os políticos usam o “levante regional”, assim mesmo entre aspas, para divulgar candidaturas e atacar o PT. A manifestação de repúdio ao bioterrorismo não passou de uma guerra política, com simpatizantes de candidatos a deputado agitando faixas e cartazes. Segundo o jornal A Região participaram até inimigos dos acusados pelo réu confesso Franco Timóteo, infiltrados no meio de produtores. Havia grupos de camisetas uniformizadas.

Ao contrário da Tribuna da Bahia, que não informa os nomes dos líderes do PFL que organizaram a tal manifestação, o jornal A Região informa que, “entre os aproveitadores estavam Markson Monteiro, Luciana Barletta, Hernani Sá, Beto Boaretto e Ângela Souza, com farta distribuição de “santinhos” eleitorais”. A Região desmente a Tribuna da Bahia. Por orientação do CDL, não houve fechamento de lojas em Itabuna como anunciaram os organizadores da farsa.

O jornal de Itabuna informa também que partiram caravanas de Gandu, Camacan, Coaraci, Jitaúna, Ilhéus e Canavieiras. A prefeita de Camacan, Débora Santos, presidente da Amurc, liderou e financiou o “levante”. Não houve como negar o uso político-eleitoral do movimento “porque alguns espertos estavam presentes, entre eles, Fernando Gomes (PFL), prefeito de Itabuna e candidatos a deputado como Pedro Vicente e Antônio Fábio Santana”.

Finalmente, na seção Carta aos Leitores, Marcel Leal, com o título “Levante duvidoso” avisa que os “produtores quebrados devem tirar seu jegue da chuva se esperam que o escândalo da sabotagem biológica do cacau vá dar margem para cancelar dívidas ou receber alguma indenização do governo”. O argumento do jornalista é consistente. Mesmo que se provasse a culpa dos funcionários da Ceplac, legalmente não se pode confundir supostos crimes de funcionários da Ceplac com a instituição.

Não há fundamentação jurídica para qualquer tipo de indenização, cancelamento de dívidas ou reparação por danos com tais alegações. Ele vai mais longe: afirma que advogados estão explorando a boa fé de produtores e arrancando dinheiro deles.

Os coleguinhas que me perdoem, mas entre o texto genérico da Tribuna da Bahia e o texto nominado de A Região, fico com o jornal de Itabuna.

Que repúdio ao bioterrorismo que nada. Tudo não passa de uma grande armação do PFL e da revista Veja. Que saudade do jornalismo da antiga Tribuna da Bahia!

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