17 de janeiro de 2014
Estadão incentiva ilegalidade do STF contra presos do "mensalão"
Sabemos
que o jornal O Estado de S. Paulo é conservador, de direita, mas, tem hora que
seu reacionarismo chega perto da barbárie e assusta. A reportagem sobre o aluguel
de um apartamento para José Genoíno é de uma escrotidão inominável, como diz o
Blog Maria Frô. Ora, o STF rasgando a Constituição, negou a Genoíno o direito
de cumprir pena em sua cidade, São Paulo. Como Genoíno precisa morar em algum
lugar de Brasília, para cumprir pena domiciliar, se não for num apartamento só
restaria a rua. Com aposentadoria de R$ 20 mil, Genoíno não conseguiria pagar a
multa imposta pelo STF de Joaquim e Gilmar. Mas, alugar um apartamento por R$
4.500 por dois meses ele pode. Na verdade, o Estadão demonstra ressentimento
por ter a militância petista arrecadado em uma semana o valor da multa abusiva
de mais de R$ 660 mil. Os leitores do Estadão deviam processar o jornalão por
estelionato na informação.
13 de janeiro de 2014
Emiliano José (PT) escreve sobre “As lições de Pepe Mujica”
http://atarde.uol.com.br/opiniao/materias/1561068-licoes-de-pepe-mujica
Lições de Pepe Mujica
*jornalista e escritor.
www.emilianojose.com.br
emiljose@uol.com.br
Lições de Pepe Mujica
Emiliano José*
Nessa
onda neoudenista predominante no País, que recende ainda ao lacerdismo dos anos
50, é forte a idéia da desqualificação da política. Sabemos aonde chegamos com
tal discurso, derrotado pelo suicídio de Getúlio em 1954, e revigorado com a emergência
da ditadura que prendeu, torturou, fez desaparecer pessoas durante 21 anos. Agora,
desde a chegada de Lula ao governo em 2003, reeleito, e com a eleição de Dilma
em 2010, um projeto político que deu prioridade ao enfrentamento da
desigualdade social como nunca se vira antes, parece que voltamos no tempo.
É
necessário fazer cotidianamente o combate à corrupção. É obrigação de qualquer
homem ou mulher envolvido na política. No entanto,tornar essa a questão central
da vida brasileira é empobrecer o debate sobre os destinos do País. E, também,
significa a ausência de projetos consistentes da oposição que, à falta da
coragem de pregar o retorno aos anos anteriores de predomínio da política
neoliberal, só fala nisso. E curioso, ainda, assistir políticos que assumiram
postos de comando no governo de Lula e de Dilma, e que só agora se desgarraram,
criticar a amplitude da frente política de que fizeram parte, como se,
inclusive neste momento, não articulassem frentes tão ou mais amplas do que as
feitas pela presidenta Dilma.
Deparei
com uma notável entrevista de Pepe Mujica, dada ao jornalista AntoniTravera,
postado no El Puercoespín, onde ele discute, entre outras coisas, o fazer
política nessa quadra histórica. O hipócrita discurso neoudenista pretende realizar
a crítica de costumes da política brasileira. Há um ditado popular, facilmente
aplicável ao caso: macaco não olha para o próprio rabo. Por que o neoudenismo
não incorpora a idéia de uma reforma política profunda, que acabe de vez com o
câncer do financiamento privado, assegurando o fortalecimento dos partidos,
acabando com a farra das legendas de aluguel? Os partidários do neoudenismo
fogem da reforma política como o diabo da cruz.
No
Uruguai, Mujica defronta-se com as mesmas críticas enfrentadas por Lula e por
Dilma. Por que não ensinar a pescar ao invés de dar o peixe? O BolsaFamília era
chamado pelos formuladores do discurso neoudenista de “bolsa esmola”,
lembram-se?. “Os setores proprietários dizem que não se deve dar o peixe ao
povo, que se deve ensiná-lo a pescar. Mas, se lhe tiramos o barco, os anzóis, a
vara de pescar, tiramos tudo, temos que começar por lhe dar o peixe”. E dá uma
lição de política ao dizer que é obrigado a conviver com tudo aquilo que ele
próprio detesta. “A vida é bela
(demasiado hermosa, na expressão dele) e há que se procurar fazer as coisas enquanto
a sociedade real funciona, embora seja capitalista”. Ou seja há que se fazer
política.
Não
crê no conformismo crônico de que reformando o capitalismo a sociedade tenha
muito futuro. Propõe caminhar no sentido de construir outra coisa, evitando-se,
no entanto, a colisão “porque o choque é sacrifício humano”. Deixa claro: não é
possível substituir as forças produtivas de um dia para o outro, “nem em 10
anos”. “Ao mesmo tempo que lutamos para transformar o futuro, há que se fazer
andar o velho porque o povo tem de viver”.Não crê que o mais importante, no
processo de mudanças, sejam as relações de propriedade. “O fundamental são as
transformações culturais, e estas levam muitíssimo tempo”. Um claro acento
gramsciano, assimiladonos seus 15 anos de cárcere, 78 anos de vida.
“Aqueles
que como nós não podemos comungar filosoficamente com o capitalismo estamosarrodeados
de capitalismo em todos os usos e costumes de nossas vidas, de nossas
sociedades” – constata Mujica. Ensina aos pares de esquerda: “O pensamento de
esquerda está se refugiando na América Latina. Só não cremos que podemos tocar
o céu com as mãos, nem que construir uma sociedade mais justa e mais livre seja
coisa de uma só geração. O desafio é bravo. Há quem ainda siga com aquilo que
dizíamos nos anos 50 do século passado. Não assimilaram o que se passou no
mundo e por que se passou”. Resta a amplitude da política, a paciência da
política, transformar o mundo trincheira por trincheira. *jornalista e escritor.
www.emilianojose.com.br
emiljose@uol.com.br