19 de outubro de 2010
Professores defendem educação pública e condenam propostas de Serra
Professores universitários, de faculdades públicas e particulares, lançaram um manifesto e ainda estão colhendo assinaturas contra as propostas e os métodos políticos do candidato a presidência da República José Serra (PSDB/DEM). E defendem um sistema educacional que priorize o ensino superior público.
Nomes como Antônio Cândido, Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí, Emília Viotti da Costa, Maria Victoria Benevides, Alfredo Bosi e Carlos Nelson Coutinho estão entre os assinantes. Os professores Emiliano José e João José Reis, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) já assinaram o manifesto.
Leia abaixo a íntegra do manifesto:
Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública.
Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se.
As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas.
Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.
Assinam:
Antonio Candido, USP; Alfredo Bosi, USP; Fábio Konder Comparato, USP; Joel Birman, UFRJ; Carlos Nelson Coutinho, UFRJ; Otávio Velho, UFRJ; Marilena Chaui, USP; Walnice Nogueira Galvão, USP; Renato Ortiz, Unicamp; Laymert Garcia dos Santos, Unicamp; Dermeval Saviani, Unicamp; Laura de Mello e Souza, USP; Maria Odila L. da Silva Dias; Sergio Miceli, USP; Luiz Costa Lima, UERJ; Flora Sussekind, Unirio; João José Reis, UFBA; Ruy Fausto, USP; Franklin Leopoldo e Silva, USP; João Adolfo Hansen, SP; Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ; Emilia Viotti da Costa, USP; Newton Bignotto,UFMG; Wander Melo Miranda, UFMG; Juarez Guimarães, UFMG; Heloisa Fernandes, USP; Maria Victoria de Mesquita Benevides, USP; Glauco Arbix, USP; Vera da Silva Telles, USP; Theotonio dos Santos, UFF; Ronaldo Vainfas, UFF; Gilberto Bercovici, USP; Benjamin Abdalla Jr., USP; Enio Candotti, UFRJ; Angela Leite Lopes, UFRJ; Sidney Chalhoub, Unicamp; Arley R. Moreno, Unicamp; Maria Ligia Coelho Prado,USP; Celso F. Favaretto, USP; José Castilho de Marques Neto, UNESP; Emir Sader, Uerj; Scarlett Marton, USP; José Sérgio F. de Carvalho, USP; José Arbex Jr., PUC-SP; Peter Pal Pelbart, PUC- SP; Viviana Bosi, USP; Irene Cardoso, USP; Wolfgang LeoMaar, UFSCar; João Quartim de Moraes, Unicamp; Léon Kossovitch, USP; Vladimir Safatle, USP; Leda Paulani, USP; Ildeu de Castro Moreira, UFRJ; José Ricardo Ramalho, UFRJ; Ivana Bentes, UFRJ; Cibele Saliba Rizek, USP; Afrânio Catani, USP; Sergio Cardoso, USP; Ricardo Musse, USP; Armando Boito, Unicamp; Enid Yatsuda Frederico, Unicamp; Andréia Galvão, Unicamp; Cynthia Sarti, Unifesp; Luiz Roncari, USP; Flavio Aguiar, USP; Iumna Simon, USP; Luis Fernandes, UFRJ; Marcos Dantas, UFRJ; Laura Tavares, UFRJ; Sérgio de Carvalho, USP; Marcos Silva, USP; Alessandro Octaviani, USP; Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim; Celso Frederico, USP; José Carlos Bruni, USP; José Jeremias de Oliveira Filho, USP; Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp; Liliana Segnini, Unicamp; Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp; Ladislau Dowbor, PUC-SP; Bernardo Ricupero, USP; Adriano Codato, UFPR; Lygia Pupatto, UEL-PR; Henrique Carneiro, USP; Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp; Maria Lúcia Montes, USP; Francisco Rüdiger,UFRS; Luís Augusto Fischer, UFRGS; Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP; Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar; Carlos Ranulfo, UFMG; Paulo Benevides Soares, USP; André Carone, UFSCar; Heloisa Buarque de Almeida, USP; Emiliano José, UFBA; Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero.
Nomes como Antônio Cândido, Fábio Konder Comparato, Marilena Chauí, Emília Viotti da Costa, Maria Victoria Benevides, Alfredo Bosi e Carlos Nelson Coutinho estão entre os assinantes. Os professores Emiliano José e João José Reis, da Universidade Federal da Bahia (UFBA) já assinaram o manifesto.
Leia abaixo a íntegra do manifesto:
Nós, professores universitários, consideramos um retrocesso as propostas e os métodos políticos da candidatura Serra. Seu histórico como governante preocupa todos que acreditam que os rumos do sistema educacional e a defesa de princípios democráticos são vitais ao futuro do país.
Sob seu governo, a Universidade de São Paulo foi invadida por policiais armados com metralhadoras, atirando bombas de gás lacrimogêneo. Em seu primeiro ato como governador, assinou decretos que revogavam a relativa autonomia financeira e administrativa das Universidades estaduais paulistas. Os salários dos professores da USP, Unicamp e Unesp vêm sendo sistematicamente achatados, mesmo com os recordes na arrecadação de impostos. Numa inversão da situação vigente nas últimas décadas, eles se encontram hoje em patamares menores que a remuneração dos docentes das universidades federais.
Esse “choque de gestão” é ainda mais drástico no âmbito do ensino fundamental e médio, convergindo para uma política de sucateamento da Rede Pública. São Paulo foi o único Estado que não apresentou, desde 2007, crescimento no exame do Ideb, índice que avalia o aprendizado desses dois níveis educacionais.
Os salários da Rede Pública no Estado mais rico da federação são menores que os de Tocantins, Roraima, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Espírito Santo, Acre, entre outros. Somada aos contratos precários e às condições aviltantes de trabalho, a baixa remuneração tende a expelir desse sistema educacional os professores qualificados e a desestimular quem decide se manter na Rede Pública.
Diante das reivindicações por melhores condições de trabalho, Serra costuma afirmar que não passam de manifestação de interesses corporativos e sindicais, de “tró-ló-ló” de grupos políticos que querem desestabilizá-lo. Assim, além de evitar a discussão acerca do conteúdo das reivindicações, desqualifica movimentos organizados da sociedade civil, quando não os recebe com cassetetes.
Serra escolheu como Secretário da Educação Paulo Renato, ministro nos oito anos do governo FHC. Neste período, nenhuma Escola Técnica Federal foi construída e as existentes arruinaram-se.
As universidades públicas federais foram sucateadas ao ponto em que faltou dinheiro até mesmo para pagar as contas de luz, como foi o caso na UFRJ. A proibição de novas contratações gerou um déficit de 7.000 professores. Em contrapartida, sua gestão incentivou a proliferação sem critérios de universidades privadas.
Já na Secretaria da Educação de São Paulo, Paulo Renato transferiu, via terceirização, para grandes empresas educacionais privadas a organização dos currículos escolares, o fornecimento de material didático e a formação continuada de professores. O Brasil não pode correr o risco de ter seu sistema educacional dirigido por interesses econômicos privados.
No comando do governo federal, o PSDB inaugurou o cargo de “engavetador geral da república”. Em São Paulo, nos últimos anos, barrou mais de setenta pedidos de CPIs, abafando casos notórios de corrupção que estão sendo julgados em tribunais internacionais. Sua campanha promove uma deseducação política ao imitar práticas da extrema direita norte-americana em que uma orquestração de boatos dissemina a difamação, manipulando dogmas religiosos. A celebração bonapartista de sua pessoa, em detrimento das forças políticas, só encontra paralelo na campanha de 1989, de Fernando Collor.
Assinam:
Antonio Candido, USP; Alfredo Bosi, USP; Fábio Konder Comparato, USP; Joel Birman, UFRJ; Carlos Nelson Coutinho, UFRJ; Otávio Velho, UFRJ; Marilena Chaui, USP; Walnice Nogueira Galvão, USP; Renato Ortiz, Unicamp; Laymert Garcia dos Santos, Unicamp; Dermeval Saviani, Unicamp; Laura de Mello e Souza, USP; Maria Odila L. da Silva Dias; Sergio Miceli, USP; Luiz Costa Lima, UERJ; Flora Sussekind, Unirio; João José Reis, UFBA; Ruy Fausto, USP; Franklin Leopoldo e Silva, USP; João Adolfo Hansen, SP; Eduardo Viveiros de Castro, UFRJ; Emilia Viotti da Costa, USP; Newton Bignotto,UFMG; Wander Melo Miranda, UFMG; Juarez Guimarães, UFMG; Heloisa Fernandes, USP; Maria Victoria de Mesquita Benevides, USP; Glauco Arbix, USP; Vera da Silva Telles, USP; Theotonio dos Santos, UFF; Ronaldo Vainfas, UFF; Gilberto Bercovici, USP; Benjamin Abdalla Jr., USP; Enio Candotti, UFRJ; Angela Leite Lopes, UFRJ; Sidney Chalhoub, Unicamp; Arley R. Moreno, Unicamp; Maria Ligia Coelho Prado,USP; Celso F. Favaretto, USP; José Castilho de Marques Neto, UNESP; Emir Sader, Uerj; Scarlett Marton, USP; José Sérgio F. de Carvalho, USP; José Arbex Jr., PUC-SP; Peter Pal Pelbart, PUC- SP; Viviana Bosi, USP; Irene Cardoso, USP; Wolfgang LeoMaar, UFSCar; João Quartim de Moraes, Unicamp; Léon Kossovitch, USP; Vladimir Safatle, USP; Leda Paulani, USP; Ildeu de Castro Moreira, UFRJ; José Ricardo Ramalho, UFRJ; Ivana Bentes, UFRJ; Cibele Saliba Rizek, USP; Afrânio Catani, USP; Sergio Cardoso, USP; Ricardo Musse, USP; Armando Boito, Unicamp; Enid Yatsuda Frederico, Unicamp; Andréia Galvão, Unicamp; Cynthia Sarti, Unifesp; Luiz Roncari, USP; Flavio Aguiar, USP; Iumna Simon, USP; Luis Fernandes, UFRJ; Marcos Dantas, UFRJ; Laura Tavares, UFRJ; Sérgio de Carvalho, USP; Marcos Silva, USP; Alessandro Octaviani, USP; Ligia Chiappini, Universidade Livre de Berlim; Celso Frederico, USP; José Carlos Bruni, USP; José Jeremias de Oliveira Filho, USP; Sebastião Velasco e Cruz, Unicamp; Liliana Segnini, Unicamp; Maria Lygia Quartim de Moraes, Unicamp; Ladislau Dowbor, PUC-SP; Bernardo Ricupero, USP; Adriano Codato, UFPR; Lygia Pupatto, UEL-PR; Henrique Carneiro, USP; Adélia Bezerra de Meneses, Unicamp; Maria Lúcia Montes, USP; Francisco Rüdiger,UFRS; Luís Augusto Fischer, UFRGS; Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, PUC-SP; Gil Vicente Reis de Figueiredo, UFSCar; Carlos Ranulfo, UFMG; Paulo Benevides Soares, USP; André Carone, UFSCar; Heloisa Buarque de Almeida, USP; Emiliano José, UFBA; Igor Fuser, Faculdade Cásper Líbero.