17 de julho de 2009

 

José Serra perguntou na sala de aula: quem aqui o pai fuma?

Alguém aí entendeu o que José Serra queria dizer? Pois é, com todo seu conhecimento e diplomas, o intelectual José Serra saiu-se com essa numa sala de aula, comenta o professor Sírio Possenti, do Departamento de Lingüística da Unicamp, na revista Língua Portuguesa. São erros, são pensamentos truncados. Um aluno poderia ter respondido: “não, aqui ninguém fuma o pai”.

Então me lembrei de alguns formadores de opinião que tentaram durante largo tempo desmoralizar o presidente Lula com base em seu linguajar de origem operária. Quem não se lembra da insistência das citações da expressão popular “menas verdade”?

As críticas da imprensa brasileira são muito seletivas. São ataques políticos. O presidente Lula falava errado. Oh!!! Mas todos se calam diante das barbaridades ditas por José Serra. E até mesmo por outros intelectuais. Em debate recente, Luiz Gonzaga Beluzzo, que não é nenhum iletrado, dizia: “Os demais derivativos, os valores estabilizaram”. São erros, pensamentos truncados. Mas o alvo é Lula, então nada disso é motivo de comentário.

Dei muita risada com os comentários de Sírio Possenti no artigo intitulado “Cinco notas”, publicado na revista digital Terra Magazine. Ele comentava o artigo de Carlos Heitor Cony (Folha de S. Paulo) intitulado “O Morfema”. Ora, como é que Cony, cronista, jornalista, romancista, membro da Academia de Letras, afirma que não conhece a palavra “morfema”? Essa palavra circula há pelo menos 80 anos. É como se um engenheiro não conhecesse a palavra “átomo”, ou um médico a palavra “gene”.

Pois é. Heitor Cony admite publicamente que não sabe o que é “morfema”, José Serra chega numa sala de aula e fala coisa desencontrada, Beluzzo solta uma frase solta. Eles não são o alvo, não são notícia. Lula é o alvo.

Aliás, lembrei-me de Marcos Bagno, doutor em Lingüística, autor da obra “A norma oculta”. Ele detona os preconceitos de professores e colunistas de jornal que se dedicam a impor a norma culta aos infelizes brasileiros.

Como dizia, a imprensa partidarizada já tentou ridicularizar o presidente Lula, de origem operária, por ter usado "menas verdade". Pois Marcos Bagno comenta que o caso Lula é especialíssimo, porque ele foi se apropriando das normas linguísticas ditas cultas e de prestígio, sem abandonar as expressões populares.

Lula é um ator linguístico de boa qualidade, e até brincou com isso uma vez: "Lembram-se quando eu falava "menas"? Pois agora eu falo "concomitantemente".

Segundo o pesquisador Marcos Bagno, Lula não trocou uma coisa pela outra, continua usando esses dois conjuntos de falares quando lhe interessa usar esse ou aquele.

As elites acham que o brasileiro fala mal o português. O caso do uso de "menas" pelo presidente Lula é de interpretação muito simples para um lingüista. Temos aqui um advérbio. Os advérbios em princípio são invariáveis, não assumem flexão de gênero e número, mas são muito parecidos com os adjetivos, que se flexionam.

Por exemplo: o advérbio "meio". Machado de Assis tem um conto que fala: "Filomena era muito bonita, porém meia triste". A isso chama-se concordância por atração. É o mesmo que acontece com a expressão "menas corrupção". Ou seja, Machado de Assis pode falar menas, mas Lula não pode. Só mesmo nos textos safados de jornalistas babacas.

Pelo sim, pelo não, o presidente Lula parou de usar "menas verdade", mas não se cansa de usar outras expressões populares para se comunicar com o povo, o que a Folha de S. Paulo com suas normas cultas não consegue. Sou mais Lula. E não perdôo as babaquices de José Serra.

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