5 de junho de 2008

 

Salvador ganha revista bonitinha, mas, ordinária

Mário Kertész, proprietário da Rádio Metrópole, celebrou o primeiro aniversário da revista Metrópole. É uma publicação bonitinha, mas de jornalismo muito ordinário. A edição especial de celebração do primeiro ano da revista tem como manchete de capa uma tentativa de desconstrução da Lei da Anistia. A Anistia é, segundo a manchete de capa, “Limitada, individual e restrita”, em vez de ampla, geral e irrestrita. Seguindo o manual de jornalismo da revista Veja e da Rede Globo, muito em moda, a revista tem uma tese e sai à procura de entrevistas para “comprovar” a tese. Ali Khamel diria que estaria “testando hipótese”.

A reportagem aleijada não é assinada. Ou melhor, é assinada pelo jornalista “Da redação”. Começa por fazer uma comparação intelectualmente desonesta e com informações mentirosas. Para “comprovar” a tese de que a indenização aos anistiados políticos “é só para alguns”, o jornalista Da Redação contrapõe o processo de um ícone da luta comunista, Ana Montenegro (PCB), falecida aos 91 anos, e que não chegou a receber a indenização, com o caso do jornalista, escritor e ex-deputado do PT Emiliano José (PT), que teria recebido sua indenização “rapidamente”.

A revista Metrópole mente repetidas vezes. Emiliano José nunca fez qualquer lobby junto à Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Sempre rejeitou a idéia. A revista afirma que ele recebeu “rapidamente” a indenização. Outra deslavada mentira. Desde o dia em que deu entrada ao processo DEZ anos se passaram. O acompanhamento foi feito pela Associação Brasileira dos Anistiados Políticos (ABAP). A revista mente quando “informa” que Emiliano José integra dois conselhos, citando o Conselho da Empresa Gráfica da Bahia e o Conselho Estadual de Cultura. Sugere uma irregularidade. Emiliano José fez parte do Conselho Estadual de Cultura, foi eleito seu presidente, nunca recebeu jeton nenhum e, antes de ser nomeado para o Conselho da EGBA, foi exonerado do Conselho de Cultura, o que é facilmente comprovável.

A reportagem é safada. Chega a afirmar que Emiliano José é “ex-guerrilheiro”. Emiliano José nunca foi “guerrilheiro”. A menção é uma grande palhaçada. Emiliano José foi líder estudantil secundarista em São Paulo, vice-presidente da UBES, trabalhava desde os 15 anos de idade como bancário, primeiro como office-boy, depois como escriturário, entrou na clandestinidade para preservar a vida, e acabou preso em Salvador, onde foi barbaramente torturado e encarcerado por quatro anos. Mas, há uma evidente tentativa da revista de banalizar a justa indenização de Emiliano José. Chama de “salário mensal” a prestação continuada determinada pela Lei da Anistia. Com justiça, Emiliano foi indenizado por ter uma carreira de bancário interrompida e por ter seus direitos violados de maneira bárbara. O autor do texto é muito ignorante ou tem má-fé.

Emiliano José não pode ser colocado em contraposição a processos inconclusos de outras pessoas. Isso é uma indignidade. Fica até parecendo que é culpado por ter sido torturado e preso. A intenção da revista é clara. Mais absurdo ainda é contrapor o caso de Emiliano José ao de Ana Montenegro, uma dirigente profissional do Partido Comunista Brasileiro que se exilou desde o Golpe Militar de 1964, durante 15 anos, foi dirigente da Federação Internacional de Mulheres, retornou com a Anistia e continuou na luta. Ana Montenegro deveria mesmo ser indenizada, com alguns milhões de reais. Aliás, seu genro Renato Pinheiro, casado com Sônia Carmo, filha de Ana Montenegro, é colunista da revista Metrópole e assina artigo na mesma edição. Bastaria ao jornalista “Da Redação” apurar a verdade com os dois. Assim como bastaria consultar o site de Emiliano José para fazer jornalismo. Mas, a intenção era outra. A revista Metrópole segue os passos da decaída revista Veja e da imoralidade que é o jornalismo da Rede Globo.

O irônico de tudo isso é que Mário Kertész, que é dono de uma revista que tenta desmoralizar os que lutaram contra a ditadura, enriqueceu durante a ditadura, como tocador de obra de ACM e depois como prefeito nomeado. Tão ordinária quanto a “reportagem” que tenta desmoralizar a Lei da Anistia é a opinião de Mário Kertész na última página. Ele dá a maior força para o professor Antônio Natalino, aquele que em destempero verbal disse que os baianos têm Q.I. baixo e tocam berimbau por que o instrumento tem uma corda só. Em vez de criticar o desequilibrado professor critica os jovens negros que foram às ruas protestar.

Comments:
Caros Oldack Miranda e Everaldo de Jesus.
Tentei encontrar em seu blog um link para enviar um email para vcs mas não encontrei.Por esse motivo uso desse espaço para me comunicar e mostrar a minha indignação ao ir hoje ao prédio do TRT em Nazaré. Por incrível que pareça, o prédio da Justiça do Trabalho de Salvador chama-se "EMÍLIO GARRASTAZU MEDICI".
Fiquei indignado,pois esse DITADOR foi quem mais torturou e matou cidadãos brasileiros que reinvindicavam igualdades e liberdades nos anos podres da ditadura.Se já não bastasse ter que aguentar o Aeroporto com o nome de um CHEIRADOR DE COCAINA, ao invés de 2 de Julho, data de luta pela liberdade da Bahia,ainda temos que aguentar o principal prédio de reinvindicações do trabalhador ter o nome de um assassino.Por essas e outra é que a Bahia não é levada a sério no cenário nacional.Pelo amor de Deus não permitam isso,ajudem aos que sentiram a mão pesada da ditadura a mostrar a verdadeira cara dessa época negra da nossa história.
Desculpe-me amigos, mas não me contive na minha indignação.
Um grande abraço e parabéns pelo exelente espaço que vcs nos proporcionam.
 
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